HomeSexo“Botar a coleira na submissa é como trocar alianças”, diz dominador
Dominador

“Botar a coleira na submissa é como trocar alianças”, diz dominador

Aos 37 anos, o empresário Daniel Passos se assumiu como dominador sexual há cerca de um ano. “Então você é tipo o Christian Grey?”, perguntam as chamadas “baunilhas” em cinquenta tons de voz – interesse, curiosidade, receio, deboche… Ele nega e chicoteia aos risos: “Só queria que a minha conta bancária se parecesse com a dele”. Daniel tem prazer em torturar uma mulher de prazer. Digo, literalmente. Com mordaças, cordas e floggies.

A dominação é apenas uma das práticas BDSM (acrônimo de “bondage e disciplina; dominação e submissão; sadismo e masoquismo”), que inclui de podolatria à pet play. Embora sejam consideradas pervertidas por algumas pessoas, todas as fantasias sexuais escapam às amarras sociais. Você pode impedir que seu desejo seja realizado, mas não pode impedi-lo de excitar a sua mente.

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Dominador, Daniel Passos tem a própria “masmorra” (Divulgação / Arquivo Pessoal)

– Quando e como você percebeu que curtia dominar no sexo?

DANIEL – Há uns quinze anos. Eu era casado na época e já tinha minha sex shop online, a Loja do Prazer,então comprava alguns produtos para experimentar em casa. Como todo mundo, comecei com aquela brincadeira de venda, algema e chibatinha… Os acessórios e as práticas foram evoluindo. Mas vivia meu universo, só recentemente passei a frequentar festas BDSM no Brasil.

– Nos primeiros encontros com uma mulher, você conta que é um “dominador”?

DANIEL – Sempre sondo que tipo de coisa ela gosta no sexo. Quando é muito “baunilha” [quem não é do meio BDSM], fico na minha e vou mostrando algumas coisas com o tempo. Porque as pessoas costumam falar: “Ah, então você gosta de bater?”. Não é bem assim. Existem várias práticas entre dominador e submissa. Aliás, alguns relacionamentos “baunilhas” brincam de fetiches como a privação dos sentidos.

– Como assim?

DANIEL – Nada mais é do que, por exemplo, botar uma venda na pessoa. Ela fica sem o sentido visual e você desperta o olfativo, o auditivo, o tátil… Pode perceber que você ligou um vibrador, mas não sabe como é nem se ou como você vai usar. Ou você pode amarrá-la, passar uma pedra de gelo no corpo dela, pingar uma vela que não queima (específica e à venda em sex shop) etc. Muita gente “baunilha” também gosta de bater ou levar uns tapas na bunda, mas é diferente do “spanking” que praticamos – e do que as pessoas acham que praticamos.

Modelo de “flogger”, um dos acessórios usado na sessão de “spanking” (Divulgação / Loja do Prazer)

Modelo de “flogger”, um dos acessórios usado na sessão de “spanking” (Divulgação / Loja do Prazer)

– Por que?

DANIEL – O dominador se preocupa muito com o prazer dela e tem prazer de ver sua entrega a ele. Existe técnica: preparamos a pele, batemos nos lugares certos e do jeito certo para dar tesão a ela. Não tem nada a ver com dar uma surra. Tudo é 100% consensual e usamos a “palavra de segurança” combinada antes – tipo “amarelo”. Quando a submissa diz isso, paramos na hora. Quem domina de verdade é a submissa porque sempre têm a palavra final. Dominação não é possessividade, tosquice, machismo. Não é dizer para a menina: “Vai buscar uma cerveja agora”.

– Você acha que o filme “Cinquenta tons de cinza” reflete a relação dominador-submissa?

DANIEL – O filme foi legal porque abriu a cabeça das pessoas, mas é uma ficção hollywoodiana. Não reflete totalmente a realidade. Vou te dar um exemplo sobre o que acabei de falar. Tem uma cena em que a Anastasia aceita levar umas chibatas para ver como é. No meio do negócio, ela começa a sangrar e chorar, implorando para o Grey parar. Primeiro que ela não disse uma palavra de segurança. Segundo que um bom dominador percebe pela linguagem corporal e pelo gemido que não está mais prazeroso para ela e para na hora. Grey não parou. Para mim, isso já é uma violência.

– O personagem Christian Grey tinha um “quarto da dor”. Você tem algo do tipo em casa?

DANIEL – Acabei de me mudar, então estou com poucas coisas em casa – só um armário. Mas montei uma “masmorra” num galpão pequeno. Lá tenho muitos acessórios e móveis BDSM, como o “X” [estrutura, em geral de madeira, que prende a pessoa em pé, de pernas e braços abertos]. Mas tudo isso vem para complementar porque a dominação de verdade é psicológica. Sexo não é só uma coisa física.

Existem diversos modelos de coleiras fetichistas à venda em sex shops (Divulgação / Loja do Prazer)

Existem diversos modelos de coleiras fetichistas à venda em sex shops (Divulgação / Loja do Prazer)

– Me dá um exemplo.

DANIEL – Numa relação dominador-submissa, posso provocá-la o dia inteiro com algumas ordens. Ela pode estar no trabalho, falo umas besteiras por mensagem, mando ir ao banheiro imediatamente tirar uma foto e provar que está excitada. Muito “baunilha” faz isso, aliás. E não deixa de ser uma dominação psicológica. Quando você a encontrar à noite, o gatilho já foi acionado de manhã.

– Hoje você consegue ter prazer num sexo “baunilha”?

DANIEL – Aquele “amorzinho” não consigo… Preciso, pelo menos, de uma pegada mais hardcore. Eu gosto da sessão de BDSM como preliminar (prender, provocar, brincar com os sentidos) para fazer sexo depois. Muito dominador só curte a sessão de spanking, por exemplo, e vai embora sem penetração etc.

– Qual a diferença entre ter uns fetiches de dominação de vez em quando e ser um “dominador” de verdade?

DANIEL – O BDSM é um estilo de vida. Existe uma relação de muita confiança, lealdade e fidelidade muito grande entre dominador(a) e submissa(o). É um compromisso mesmo, tudo é acordado numa espécie de contrato. Mas nada daquilo fantasioso do filme, a piração de advogado etc. Existem rituais como a “cerimônia de encoleramento”: colocar uma coleira na submissa seria o equivalente à troca de alianças em um casamento. E alguns fazem votos do tipo “Nunca vou permitir que saia sangue de você”. Tenho certeza que muitos relacionamentos “baunilhas” dariam certo se tivessem um contrato mais ou menos assim porque os conflitos começam quando uma pessoa fica tentando mudar a outra.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo. Imagem: Pixabay

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