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Doze dúvidas sobre a PrEP, o remédio que previne o vírus HIV

“E por acaso você conhece alguém com aids?”, me provocou um amigo em tom de sarcasmo. Hétero, 37 anos, solteiro, ensino superior, heavy user desses aplicativos de encontro. Depois de me contar animado “como tá fácil arrumar sexo”, perguntei se encapava sempre o dito cujo. Não, não usava camisinha sempre: “porque é melhor sem” ou “não tinha na hora” ou a “mina não pediu”. Conheço, sim, duas pessoas com aids. Um homem gay, divorciado, com cinquenta e poucos anos. Um homem hétero, casado há décadas, avô, mais de setenta anos. Talvez conheça mais gente, mas o estigma faz com que permaneçam invisíveis.

O Ministério da Saúde calcula que 830 mil pessoas sejam portadoras do HIV no Brasil. Os números aumentam a cada ano – a incidência de casos em garotos de 15 a 19 anos triplicou entre 2006 e 2016. Falta informação sobre como se proteger do vírus? Segundo uma pesquisa divulgada pelo governo em 2015, a maioria dos brasileiros (94%) sabe que o preservativo é a melhor forma de prevenção às DSTs e à aids. Apesar disso, 45% da população sexualmente ativa não havia usado camisinha nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou uma série de medidas para combater o contágio do HIV em todos os países.

Entre elas, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) para pessoas com alto risco de infecção. Desde dezembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui gratuitamente o remédio Truvada em determinadas condições. Antes de tirar as dúvidas mais comuns, vale lembrar que HIV e aids não são a mesma coisa: HIV é o vírus; aids é a manifestação de doenças (como pneumonia, tuberculose, câncer) causadas pela queda do sistema imunológico. Quando o vírus HIV não é tratado, a pessoa pode desenvolver a Síndrome da Imunodeficiência Adquiria (aids). E a aids ainda não tem cura.

1) O que significa PrEP?

Sigla de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV. “Profilaxia” são medidas de controle ou prevenção de infecções e doenças. “Pré-Exposição” porque é indicada para pessoas não-infectadas ANTES que elas entrem em contato com o vírus causador da aids.

2) Na prática, como isso acontece?

É preciso tomar diariamente uma pílula que contém duas drogas: tenofovir e entricitabina. Elas trabalham como barreiras, impedindo que o vírus HIV se estabeleça e se espalhe pelo seu corpo – caso você tenha contato com ele, por exemplo, em uma relação sexual sem camisinha.

3) E se não tomar todos os dias?

Estudos clínicos afirmam que a taxa de eficácia da PrEP é 99% quando tomada corretamente. Ou seja, um comprimido por dia, sem interrupções. Fora isso, não dá pra garantir que haverá quantidade suficiente de remédio no seu organismo pra bloquear o vírus. Da mesma forma que a pílula anticoncepcional, se esquecida durante o mês, perde eficácia contra uma gravidez não-planejada.

4) Se tomar só antes de fazer sexo, funciona?

Não, não, não. Mesmo quem começa a PrEP e passa a tomar o remédio direitinho precisa esperar que ele faça efeito – sete dias para o sexo anal e vinte dias para o vaginal.

5) Ok, mas depois disso pode abrir mão da camisinha?

Existem diversos tipos de infecções/doenças sexualmente transmissíveis: clamídia, gonorreia, sífilis, hepatite B, HPV etc. A PrEP não protege contra elas. A pílula “blinda” apenas contra o vírus HIV se tomada diariamente. A camisinha é o método de segurança mais amplo e seguro.

6) Estão dando a PrEP pra quem quiser?

Não. Não basta chegar a uma unidade de saúde e pedir uma caixa de comprimidos. Os médicos recomendam a PrEP para “pessoas que tenham maior chance de entrar em contato com o HIV por não usar camisinha nas relações sexuais, principalmente anais” – não se trata de um recorte preconceituoso: fisiologicamente falando, o risco de transmissão via ânus é maior. A prioridade na distribuição da PrEP, segundo o Ministério da Saúde, são gays e homens que fazem sexo com homens; pessoas trans; trabalhadores(a)s do sexo e parcerias sorodiferentes (quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não).

7) Precisa passar por uma consulta médica?

Sim. O interessado em receber a PrEP pelo SUS tem que procurar uma unidade de saúde do programa (veja aqui os endereços) e se submeter à avaliação de profissionais. Caso exista realmente um alto risco de contato com o vírus e a PrEP for considerada o melhor método de prevenção, a pessoa precisará fazer alguns exames de sangue para checar infecções sexualmente transmissíveis e o funcionamento dos rins e do fígado. Se aprovado(a), poderá buscar o remédio de graça a cada três meses, desde que faça novos exames e acompanhamento médico. O Truvada, nome comercial da PrEP, também pode ser comprado sob prescrição médica nas farmácias especializadas em medicamentos especiais – ênfase: não são aquelas comuns. A caixa com 30 comprimidos custa cerca de R$ 290.

8) Existem efeitos colaterais?

Como todo remédio, sim. Algumas pessoas podem apresentar sintomas como dor de cabeça e náuseas. Entre os riscos mais graves, está a insuficiência renal – não à toa, o programa do SUS faz exames periódicos para avaliar a saúde dos rins dos pacientes que tomam a PrEP.

9) Tem que tomar pro resto da vida?

Não necessariamente. Há quem pare de tomar a PrEP, por exemplo, porque passou a usar camisinha em TODAS as relações sexuais ou teve efeitos colaterais e não se adaptou à medicação.

10) Se decidir parar, por quanto tempo estará protegido(a)?

A PrEP não funciona como uma vacina com determinado “prazo de validade”. Se parar de tomar o remédio, a pessoa volta a ficar desprotegida.

11) E se a pessoa teve o risco de contato com o HIV?

Ela pode procurar um serviço de saúde público para tomar a PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV), que funciona de forma diferente da PrEP. Também se trata de um comprimido, mas que deve ser tomado em até 72 horas (três dias) depois de qualquer situação de risco. Por exemplo, se foi vítima de violência sexual; se fez sexo sem camisinha ou se ela rompeu; se houve um acidente ocupacional, como contato direto com material biológico (tipo sangue, secreções etc). Embora estejam chamando a PEP de “pílula do dia seguinte”, o tratamento continua por 28 dias – a pessoa precisa tomar o comprimido ao longo desse período.

12) O uso da PrEP não faz com que as pessoas abandonem a camisinha?

A ideia não é distribuir o remédio como substituto da camisinha porque ele não protege contra outras DSTs – só pra ilustrar, o Brasil vive uma séria epidemia de sífilis. A PrEP é uma estratégia para pessoas que JÁ TEM dificuldades em usar a camisinha. Basicamente significa deixar a hipocrisia de lado por uma questão de saúde pública. Deixar essas pessoas sem NENHUMA proteção ou oferecer uma alternativa?

Os críticos acreditam que essa sensação de segurança faria com que (mais do que nunca) os usuários da PrEP abandonassem a camisinha e os índices de outras DSTs aumentassem. Os defensores alegam que os estudos nenhum estudo detectou isso porque, para receber o remédio no SUS, a pessoa precisa passar por testes sanguíneos e aconselhamento. Nessas ocasiões, os profissionais trabalhariam a “prevenção combinada”, explicando a importância da camisinha mesmo com a PrEP. Quem COMPRA o Truvada, driblando esse protocolo, também muda o comportamento sexual?

Em uma ótima entrevista no Portal Drauzio Varella, os infectologistas Esper Kallás e Ricardo Vasconcelos fazem comparações para opinar. Por exemplo, perguntam se alguém deixa de usar o cinto de segurança porque o carro já tem airbag. A polêmica segue. Mas me parece que, se campanhas de prevenção e discursos moralistas não são 100% eficazes no combate ao HIV, novas estratégias são bem-vindas. Ainda que, eventualmente no futuro, seja preciso reconhecer que não deu certo.

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*Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo. Foto: (Paul Sakuma/AP/Divulgação)

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