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“Escola de Princesas” coroa desigualdade de gêneros

Franquia que ensina regras de etiqueta chegará a São Paulo neste mês (Reprodução / Escola de Princesas.net)

“O sonho de toda menina é tornar-se uma princesa”. Essa frase nos remete ao século XVI, quando senhoras distintas davam aulas de etiqueta às jovens da corte francesa – cujas possibilidades na vida se resumiam a arrumar um marido abastado, parir e cuidar de seus herdeiros. Não, péra: esse é o slogan de uma escola mineira fundada em 2013 que, NESTE MÊS, abrirá filial em São Paulo. Crianças a partir dos quatro anos de idade aprendem como se portar diante de uma sequência de talheres, arrumar gavetas, fazer arroz, usar maquiagem… Belas, recatadas e do lar. Óbvio que não há vagas para meninos porque, né, eles podem comer com as mãos se quiserem e delegar os afazeres domésticos.

Sei que não é de bom-tom debochar ou adotar palavreado chulo. Porém, porra, quanto retrocesso nessa cagação de regra. Numa época de debates / iniciativas pra combater a brutal desigualdade de gêneros, a Escola de Princesas coroa literalmente a velha dicotomia “coisas de menina” versus “coisas de menino”. Rosa x Azul, Delicadeza x Força, Boneca x Carrinho. Na contramão até das produções recentes da Disney, fábrica de animações e inspirações infantis, em que a personagem feminina não quer – nem precisa – viver esperando pelo príncipe encantado. Ele caiu do cavalo branco. Ela botou os cotovelos sobre a mesa. E, nossa, o planeta Terra continua girando ao redor do Sol!

(Reprodução / Escola de Princesas.net)

Em entrevista ao Estadão, a psicopedagoga (!!!) responsável por idealizar a tal escola diz que estão formando “princesas independentes”, “grandes empresárias” e “quem sabe presidente do Brasil”. Porque, num exemplo citado por ela própria, essas futuras mulheres serão capazes de resolver problemas do tipo “pregar um botão que tenha caído da roupa antes de sair para uma festa”. Primeiro que elas não precisam de um curso de três meses pra isso, segundo que podem trocar de roupa ou pedir ajuda a alguém, terceiro que deveriam ser estimuladas a desenvolver outras habilidades para atingir verdadeira independência.

Inclusive a sexual. Levar “esse conceito de saber se guardar” para não ficar falada apenas reforça os estereótipos: princesas são pra casar,malvadas são para transar. Por que não matricular meninos sob a mesma cartilha do “prive-se” e “represe seus desejos”? Ou, muito melhor, para lhes ensinar coisas como consentimento sexual? Dá pra alternar com outras disciplinas bastante úteis. Como não peidar / arrotar / coçar o saco em público, como cozinhar feijão, como trocar fraldas, como separar roupas claras das escuras antes de colocar na máquina de lavar, como recolher o cocô do cachorro etc. Estou certa de que, da mesma forma que as mulheres, eles possuem condições físicas e intelectuais de conciliar mercado de trabalho com necessidades domésticas.

É bárbaro que sejam incentivados os “valores de uma princesa”. Qualquer ser humano (“príncipes” também) deve exercitar “humildade, solidariedade e bondade”. Mas fiquei com a impressão de que pretendem criar Misses – discursando pela paz mundial e dando aquela acenada tradicional. Podiam abrir franquias que despertassem diferentes sonhos em meninas e meninos… “Escola de Astronautas”, “Escola de Dentistas”, “Escola de Floristas” e por aí vai. De um jeito lúdico, cooperativo, divertido, informativo. Mais lunetas, dentaduras, canteiros… Menos “jogo completo de chá e guardanapos estampados”.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

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