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Os desafios do sexo pós-maternidade

(Getty Images)

É a fase mais complicada na vida sexual de um casal. Enquanto o amor incondicional pelo filho aproxima emocionalmente os parceiros, a nova e exaustiva rotina tende a distanciá-los fisicamente. Como pensar em orgasmos quando tudo o que você quer é um banho demorado e algumas horas de sono? Como se reconciliar com o próprio corpo diante das pressões bizarras de celebridades-que-perdem-20-quilos-duas-semanas-depois-do-parto? Como fazer o outro compreender que a falta de tesão não é pessoal, mas parte de um processo que a grande maioria enfrenta ao se tornar mãe?

A jornalista Leda Sangiorgio, de 39 anos, e a publicitária Carol Martins, de 31, decidiram falar abertamente sobre essas angústias – ambas amigas, casadas e no primeiro ano de vida de seus bebês. Elas acabaram provocando uma pequena revolução num grupo fechado do Facebook, o  Mães que Pensam Naquilo. Então era permitido discutir o tabu, trocar desabafos, sugerir dicas… sobre sexo. “Existem outras mulheres que não transam há meses com seus maridos?”. Calcule o alívio de não se saber sozinha com esses problemas “secretos”…

– Você e Carol, idealizadoras do “Mães que Pensam Naquilo”, já se conheciam? Como o projeto começou a ganhar forma?

LEDA – Sim, conheço a Carol há mais de 12 anos. Por pura coincidência acabamos engravidando praticamente juntas, com dois meses de diferença. Acompanhamos pelo Facebook nossa gravidez, as alegrias e as tristezas do primeiro ano de vida das nossas bebês. Até que um dia eu vi um depoimento da Carol sobre as dificuldades que ela estava enfrentando na vida a dois, mais especificamente, na vida sexual. Aquele desabafo me tocou, pois eu também estava na mesma situação. Ela fez esse relato em um grupo que ela tinha acabado de criar no Facebook, onde só entravam mães convidadas ou amigas. Achei um ato de muita coragem. Imediatamente imaginei o projeto. Eu sempre quis ter um projeto para falar sobre a maternidade, mas não sobre o que todo mundo já fala. Eu queria mostrar a vida como ela é. Quando vi o grupo da Carol e as centenas de relatos chegando, acendeu aquela “luz” e eu disse “é isso”! Vamos falar sobre sexo depois dos filhos. E depois de um café da tarde de várias horas, nasceu esse nosso bebê compartilhado.

– A gente tem uma ideia meio “sacralizada” da mulher depois dos filhos, como se ela perdesse ou não se importasse mais com sua sexualidade. Pra piorar, ninguém fala abertamente do lado B, só do mundo “cor de rosa” da maternidade. Como isso contribui com o tabu e interfere na vida das mães?

LEDA – A maternidade é sagrada mesmo, porque afinal geramos um vida e isso é divino. É maravilhoso ser mãe e saber que você está criando um ser humano. Porém, tudo na vida tem o lado B. Mas, na sociedade atual parece crime você expor as dificuldades envolvidas em todo o processo, que já começa na gravidez. Parece “pecado” dizer algo negativo sobre esse momento “´mágico”. Acho que isso contribui para muitas mulheres se calarem e acharem que é normal e que um dia vai passar. Penso que é preciso sim falar sobre tudo, sobre o lado A e sobre o lado B. As mulheres precisam ter voz e ter um espaço para compartilhar as angústias da maternidade, que posso garantir, são inúmeras. Não é só o sexo, é o relacionamento, é a autoimagem, o autocuidado. Tudo isso fica de lado, mas nós sentimos falta de tudo isso e mais um pouco. E o mais importante: não tem nada de errado em assumir isso. Antes de sermos mães, somos mulheres, somos seres humanos, com necessidades e vontades.

As idealizadora do projeto “Mães que Pensam Naquilo”, Carol Martins e Leda Sangiorgio, querem promover o debate sobre sexualidade (Divulgação)

Vocês realizaram uma pesquisa sobre o assunto. Qual a amostra e como ela foi conduzida? Que dados chamaram atenção?

LEDA – A pesquisa foi muito importante para entendermos quais eram os principais dilemas das mães. Coletamos os dados por meio de um formulário online e conseguimos 108 respostas. Para mim, o dado mais relevante foi descobrir que 7 em cada 10 mulheres relata queda do desejo sexual depois do parto. Além disso, 54% sentem dor na hora do sexo! Este é um dado curioso, pois segundo os médicos mulheres que passaram por um parto normal têm mais tendência a sentir dor e não foi o que a pesquisa mostrou, nem mesmo o que vem por meio dos relatos. Para você ter uma ideia, 69% das pesquisadas tiveram parto cesárea, então tem algo de muito errado com essa percepção dos médicos. Eu mesma tive parto cesárea e minha bebê hoje completa 18 meses, a dor ainda é insuportável para mim. Por outro lado, a pesquisa mostrou uma dado positivo, pois 80% das mulheres conversam com o parceiro sobre sexo. Por último, outro dado legal é que 84% têm vontade de compartilhar seus dilemas sexuais, de forma anônima ou não.

– Quais as maiores queixas das mães em relação ao sexo/desejo? Por exemplo, baixa autoestima com as mudanças corporais…

LEDA – As principais queixas que aparecem nos relatos e que a pesquisa mostrou são queda no desejo sexual e dor durante a relação. Depois disso, as mudanças corporais, ligadas à autoimagem e à autoestima. Sem contar o cansaço e a falta de sono. Todos esses fatores juntos são suficientes para armar um complô contra o “vuco-vuco” (como chamamos o sexo lá no grupo).

– Algumas mães voltam a fazer sexo mais de um ano depois do parto ou veem a frequência sexual cair para uma vez a cada dois meses… Como isso abala o vínculo homem-mulher? Ou o amor em comum pelo filho “sublima” tudo isso?

LEDA – Ficar mais de um ano sem ter uma relação sexual no casamento é como pedir o divórcio. Por enquanto, não recebemos nenhum relato com esse perfil. Mas, percebemos que a média de relações sexuais depois do filho diminui drasticamente, chegando sim a mais de dois meses de intervalo entre uma relação e outra. Precisamos pensar que o filho só está ali porque aquele casal se ama e mantinha um relacionamento saudável antes da chegada do bebê. É fundamental manter o relacionamento a dois que envolve muito mais que o sexo. Envolve o romance, o carinho, o cuidado um com o outro. O sexo não começa na cama, depois de um dia exaustivo, rapidinho para que o bebê não acorde. Ter um filho é algo que precisa ser muito pensado, pois sair para namorar, viajar, cinema, teatro….são coisas que ficam no seu passado. Acho que podemos comparar o casamento a uma planta, você precisa regar, senão morre. É preciso encontrar um jeito de fazer programas a dois e também buscar formas para apimentar essa relação, seja indo a um sexshop, vendo filmes, lendo contos eróticos, etc.

Compartilhar dores e angústias com pessoas que vivem a mesma coisa é terapêutico. Trouxe também dicas de como recuperar a libido? Quais seriam os primeiros passos?

LEDA – Com certeza compartilhar é muito terapêutico. A primeira atitude é se cuidar. Como pensar em sexo com a depilação vencida, descabelada, com olheiras e de lingerie pós-parto? Nessa hora, a mãe precisa ter uma amiga, mãe, tia, prima, etc. para ficar com o bebê. Nada como se arrumar, fazer as unhas, por a depilação em dia e vestir algo que não seja roupa de gestação para se sentir sexy novamente. Depois, a dica é começar devagar, um cinema com o marido, uma volta no quarteirão, qualquer programa a dois é fundamental para começar a acender a chama novamente. Minha dica pessoal é jogar fora sutiã e calcinhas pós-parto e roupas de grávida. Nada de brinquedos e coisas de bebê no quarto do casal, isso tira o tesão de qualquer um. Dica valiosa: é preciso pensar sobre sexo para se sentir estimulada, então entre uma fralda e uma mamada, que tal uma provocação pelo whats para o marido?

– Vejo mães que acham natural perder a privacidade e o direito de estar à sós com o parceiro: não fecham nunca a porta, dormem com as crianças na mesma cama, não se permitem deixar os pequenos de vez em quando com alguém para jantar etc. Você acha que elas se dão conta de como esses hábitos são nocivos para sua sexualidade?

LEDA – Cada mãe tem a sua história. Não devemos julgar o modo de criar o bebê. Porém, como eu já disse, é fundamental ter um momento a sós com o maridão. Filho é ótimo, amamos nossas crias, mas…um dia eles crescem e sobrará o casal, se esse casal perdeu seu vínculo, sua intimidade e a vontade de ficar juntos, acabou o casamento. Então, o meu recado é refletir sobre isso. Eu, pessoalmente, quero muito ficar casada para o resto da minha vida, então farei tudo que puder para manter a chama acesa, o que inclui sim deixar minha bebê com a babá de vez em quando e sair com o maridão.

– Você acha que, para algumas mulheres, as questões em relação ao sexo eram anteriores à maternidade (e ela acaba servindo de “desculpa”)? Se ela não tinha orgasmos ou abertura para conversar com o parceiro etc… isso só se agrava depois dos filhos, não?

LEDA – Sim, claro que há mulheres que já enfrentavam dificuldades na vida sexual antes dos filhos. Depois, tudo pode piorar ou melhorar. Temos mães que sentiam dor antes de engravidar e depois de um parto vaginal essa dor melhora. O mais importante, para essas mulheres, é procurar ajuda médica, terapêutica, etc. Sexo é vida, é fundamental para o bem-estar, mas tem que ser algo bom para os dois.

– Não seria interessante incluir os parceiros nessas rodas de conversa ou palestras? Para fazê-los entender as angústias e saber como ajudar nesse resgate da sexualidade feminina?

LEDA – Com certeza nossa intenção é incluir os maridos e parceiros no projeto, nos eventos, etc. O homem precisa sim entender melhor como nos sentimos, até para não pensar que é algo pessoal e sim relacionado a esse momento tão especial na vida da mulher. Eles são bem-vindos sempre!

– Quais os planos de vocês com o “Mães que Pensam Naquilo”?

LEDA – Estamos chamando o projeto de plataforma de engajamento. Vamos usar as redes sociais, além de promover eventos para debater o tema junto a especialistas. Temos nosso canal no Youtube, Facebook e nosso site deve entrar no ar ainda essa semana. Nele, teremos matérias sobre todos os assuntos que envolvem a retomada da vida sexual depois dos filhos. Queremos envolver o maior número de mulheres e homens para quebrar de uma vez esse tabu e mostrar que há vida sexual depois dos filhos e ela pode ser até melhor!

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

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