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Ela usa saia. Seu marido, crossdresser, também

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À esquerda, Xuxu como gosta de se vestir: saia curta e bota de cano longo. A esposa, fotógrafa, não se importa. Foto: Daniela Toviansky.

Eu estava no começo da carreira, uma jornalista recém-formada, quando a Época São Paulo me deu a missão de encontrar casais improváveis para uma reportagem de capa da revista. Na época, pouco se falava sobre os crossdressers – nem mesmo o cartunista Laerte tinha “saído do armário”. Um colega de redação comentou que conhecia um cara adepto do movimento… Foi então que eu conheci a história de Xuxu e Priscila. Jamais vou esquecer o desconforto inicial diante daquele homem enorme e de voz grossa, mas vestido de mulher. Ele, como tantos outros “personagens” me deram a oportunidade incrível de mergulhar num universo até então desconhecido pra mim. Como esta entrevista deve ter uns 5 anos ou mais, não sei dizer se o casal ainda está junto (se alguém tiver notícias, comenta por aqui!). Abaixo, o texto publicado. Neste link, um trecho do programa A Liga de ontem, em que Cazé entrevistou crossdressers e também experimentou a transformação…

PRISCILA  E PAULO CÉSAR, O XUXU 

Fotógrafa + crossdresser

Priscila Varela conheceu o namorado de minissaia, salto alto e maquiagem. Mas ele é quem estava vestido assim. Não para uma festa à fantasia ou para o carnaval: Paulo César Finardi apenas trabalhava em seu bar-karaokê, localizado em Moema, quando a fotógrafa entrou acompanhada de uma antiga cliente. “Achei que fosse um travesti”, diz ela, lembrando a cena vivida em 2003. “Pouco depois de sermos apresentados, não resisti e perguntei se ele era homossexual.” E qual não foi sua surpresa ao ouvir do homem de voz grossa: “Não, sou hétero. Só gosto de me montar de menininha”. Custou um bocado até assimilar a ideia.

Xuxu não cabe nos rótulos. Não dá para dizer que se trata de um crossdresser: homem quase sempre heterossexual, que só se veste de mulher em casa ou para eventos especiais e esconde o hábito da sociedade. “Sou mais do que isso. Ando na rua montado desse jeito, já está incorporado ao meu dia a dia”, afirma, aos 39 anos. O cabelo vermelho não é peruca, as unhas compridas e pintadas não são de porcelana e o armário não guarda roupas nem sapatos masculinos. Ele diz que, na infância, roubava peças do vestuário da mãe. Sobre botas de cano longo, bico fino e salto de 13 centímetros, o ex-técnico industrial jura que “o pé já nem dói mais”.

O desconforto inicial de Priscila diante do novo amigo foi esquecido rapidamente: ela e Xuxu tinham vários interesses comuns – e muito que falar sobre música e fotografia. Ficaram tão próximos que o interesse mútuo apareceu, sem maiores questionamentos. Porque o amor escapa dos padrões e das pequenezas sociais. Daí para a frente, eles se recusam a entrar em detalhes. Ela conta apenas como foi difícil sair de mãos dadas com ele pela primeira vez. “Fomos até a padaria a pé, e eu estava nervosíssima. Entramos, todo mundo olhou, mas ninguém falou nada. Depois me acostumei.”

Um dia, Xuxu teve sua casa assaltada e foi convidado a morar por um tempo com Priscila. Está lá há seis anos. Que ela sempre foi de namorar “gente diferente”, como punks e homens tatuados cheios de piercings, sua família, conservadora, já sabia. Mas nem a avó, que a considera “excêntrica”, contava com uma radicalização daquelas. “Minha mãe viu o Xuxu uma vez, mas não gosta dele. E não adianta forçar. Vivemos mais entre nós dois e com amigos”, afirma Priscila, que descarta a hipótese de ter filhos. Hoje, os dois levam uma vida de casados bem mais comum do que se especula, com direito a brigas por ciúmes e até na hora de alugar um DVD. “Eu escolho filmes de ficção científica e ação”, diz Xuxu, que está longe de ter sensibilidade feminina. “Ela gosta de comédia romântica e drama.”

De quarta a domingo, dividem as funções no bar-karaokê, onde trabalham madrugada adentro. Nos dias de folga, Priscila vai para a balada e ele, caseiro, fica em frente ao computador. Eles também podem ser encontrados andando de mãos dadas pela Vila Mariana, onde vivem, ignorando preconceitos que lhes cruzem o caminho. “A gente não vai andar assim na periferia ou numa final de campeonato. Na noite, que é o nosso universo, existe muito mais abertura para qualquer um viver do jeito que é”, diz Priscila, pedindo ajuda para abrir uma garrafa de água. Ele gira a tampa sem esforço e termina: “É, mas eu não sairia montado em público se não tivesse crescido em São Paulo”.

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Comentários
  • Olá,
    Meu nome é Sttefanne Camp, e fui uma das participantes do quadro “Um Dia de Crossdresser” programa “A Liga”, que foi ao ar em 22.04.2012.
    Fico feliz por haver uma repercussão frente ao assunto, visto que ainda existem muitos Tabus e Preconceitos sobra a prática do Crossdressing em nosso país, apesar de estar tão presente em nossas vistas.
    Para quem não se lembra, em nossa história, a heroína brasileira Maria Quitéria (Considerada Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro) , se alistou como homem no Regimento de Artilharia, mas logo foi descoberta pelo pai (essa foi uma forma de Crossdressing). Acrescenta-se a isso, falar nos inúmeros personagens de novelas, filmes, seriados e teatro que, pelo talento de seus atores, demonstraram o Crossdressing de uma forma profissional, sem preconceitos ou tabus.
    Infelizmente, em nosso país, parece que muitas pessoas preferem se apegar à “tradições”, as quais muitas não têm fundamento algum para esconder seus preconceitos, e no nosso caso, não estamos apartadas. Quantas pessoas, homens ou mulheres, não praticam o crossdressing de forma escondida, por medos diversos? E são felizes, mesmo que momentaneamente, se vestir para expressar um sentimento de alegria, somente por gostar de se vestir.
    Fico contente pela Nathalia Ziemkiewicz ter abordado (mais uma vez) esse assunto, pois demonstra que, de tempos em tempos, o crossdressing precisa ser demonstrado como uma prática normal, igual a um hobby, que, ao mesmo tempo pode ser algo inofensivo, quanto a expressão de mais uma “Tribo Urbana”.

    Obrigada por essa abordagem.

    Beijos,

    Sttefanne Camp
    Campinas-SP

    24 de abril de 2014
  • Esta é a primeira vez que
    entro em seu blog pois
    gostaria de saber como os
    homens iniciam a vivencia
    desta natureza sem
    sentirem-se angustiados,
    pois eu tenho desde
    criança vontade de vestir-
    me e ser tratado como
    uma menina. Apesar de
    sentir que deva vivenciar
    tal natureza, n tive ainda
    coragem de usar lingirie
    ou roupas de mulher por
    não sentir-me livre, porem
    ja estou encorajando-me a
    vestir algumas calcinhas e
    minissaias de minha
    mãe… alem disso, precisso
    perder o medo de estar
    vestido com roupas de uso
    fem. como por exemplo
    minivestidos balone.

    17 de novembro de 2014
  • Olá …eu adoro ouvir histórias como essa que contou…..eu sou menino também…e sempre gostei de usar roupas de meninas….eu desde criança a minha mãe me dava calcinhas das minhas irmãs quando não tinha cuecas para me dar…..e eu adorava isso….mas depois comecei a brincar com minhas irmãs e amigas dela em vestir como elas….e a fascinação por roupas de meninas começava a crescer cada dia que passava….hoje sou casada e partilho todas as roupas com minha esposa….e ela própria ajuda comprar as minhas próprias roupinhas…..tenho de tudo….e no meu dia a dia…uso somente lingeries femininas….e em casa ando somente com roupas femininas….por isso a coisa que mais gostava era um dia poder andar vestido com roupas de mulher por completa nas ruas e não ser considerada uma aberração……kkkkkk, quem sabe isso um dia será possível….enquanto isso temos que viver fechadas entre 4 paredes e vivermos somente na vontade….bjs …Sofia Almeida

    15 de janeiro de 2016
  • Gostei muito do artigo,tenho 52 anos e minha esposa 49,estamos casados a 31anos.Tambem sou crossdresser e ela sabe,gosta e respeita muito e também ela me ajuda muito desde roupas como se comportar,maquiagem pinta as unhas vamos juntas fazer sobrancelhas.E desta forma somos muito felizes.Amor e respeito.

    18 de outubro de 2016

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