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“Testei o coletor menstrual e redescobri minha pepeka”

TEXTO:  M.Z. (uma amiga querida)

A primeira vez que ouvi falar dos coletores menstruais pensei que a ideia de colocar um copinho dentro da pepeka pra segurar o sangue era algo meio estranho, bem hippie ou com cara de tática antiga que gente como a Cleópatra usava antes de criarem os absorventes internos. Mas alguns meses atrás o tema começou a pipocar no meu Facebook. Amigas de todos os perfis, das mais alternativas às super caretas, relatavam as mil maravilhas do copinho de silicone, afirmando que ele não causa alergias, é imperceptível se bem colocado, não deixa cheiros, dura muitos anos e não agride o meio ambiente. Tudo isso me pareceu vantajoso, já que uso absorventes internos intercalando com os comuns mas odeio pensar no lixo que produzo, além de não curtir a imagem e o cheiro do sangue no algodão.

Decidi então que era a hora de encarar a minhas dúvidas. Afinal, como colocar a coisa lá dentro e, principalmente, como tirar? E se tiver que trocar no banheiro público? E se vazar? E se eu morrer de infecção generalizada (amo um drama)? A boa notícia é que tô aqui, vivinha, e vou compartilhar a minha experiência com vocês.

Como sou uma pessoa meio impulsiva quando se trata de compras online confesso que não pesquisei muito qual modelo adquirir antes de apertar o botão “comprar”. Descobri quais eram as marcas vendidas no Brasil e entrei no site do Me Luna principalmente porque os coletores deles são coloridos e achei fofo. Comprei um tamanho M porque não tenho filhos mas tenho vida sexual ativa e fluxo médio. Achei que pra escolher o melhor modelo pra mim isso era tudo o que eu precisava saber.

Quando o pacote chegou pelo correio eu fiquei muito feliz e, pela primeira vez na vida, desejei ficar menstruada logo pra testar a novidade. Alguns dias antes da menstruação descer, resolvi fazer um teste, pois dessa forma poderia fazer menos “bagunça” ao colocar e tirar o troço. Antes do teste, fervi o coletor por cinco minutos, conforme a embalagem me orientou, e lavei bem as mãos. Dobrei o copinho no meio no sentido vertical, sentei na privada, relaxei como a gente faz antes do exame ginecológico e coloquei o coletor lá dentro. Ele entrou com certa facilidade, mas não desdobrou ficando na forma de copo como deveria. WTF? Resolvi dar um Google no problema “o coletor menstrual não abre” e o meu mundo mudou.

Descobri que a coisa é muito mais ampla do que eu imaginava. Existe toda uma ciência experimental sobre os copinhos e suas dobras, com mil tutoriais, vídeos e depoimentos das miga que já usam faz tempo. Somente as “dobras”, como são chamadas, renderiam um almanaque. Com nomes engraçados, como “diamante”, “meio diamante”, “Duplo 7”, e “punch-down”, cada uma forma um desenho diferente no copinho, como origamis. Outro fator importante é o tônus muscular do seu canal vaginal. Embora as aulas de pilates não tenham surtido efeito na minha bunda, elas tonificaram bem o meu assoalho pélvico e por isso o copinho enfrenta mais resistência lá dentro na hora de abrir.

Escolhi uma dobra e comecei a seguir as dicas que li na internet, sobretudo no genial grupo de Facebook Coletores Brasil – menstrual cups. Neste momento, entendi porque tanta gente associa o uso dos copinhos ao autoconhecimento bucetal. Não se trata apenas de enfiar o troço lá dentro, como você faria com um OB, usando só a ponta do dedo ou até mesmo um aplicador. É preciso realmente “explorar” a área, descobrir como localizar o colo do seu útero pra ver se o copinho tá em volta dele, entender como o seu corpo relaxa e em qual posição inserir o coletor fica mais fácil. Depois de passar o indicador nas bordas do Me Luna pra garantir que ele estava aberto e dar uma puxadinha pra formar o vácuo, dei pulos de alegria ao notar que ele estava certinho – mal dava pra sentir. Mas na hora de tirar veio mais drama: quem disse que o troço saia? Puxei pela haste e nada, ele estava grudado. Já me imaginei no PS, sussurrando pra enfermeira da triagem que estava com um objeto preso na vagina. Mas antes de começar a chorar decidi recorrer novamente ao Google e voilá: bastou colocar o dedo em uma lateral do copo pra tirar o vácuo e depois fazer uma força do tipo “fazendo cocô” que o copinho desceu o suficiente para eu segurar a sua extremidade com dois dedos e tirar sem problemas.

977 - BOX SAUDE

Passo a passo: clique para ampliar a imagem.

Quando fiquei menstruada foi o máximo. Me senti tão moderna e confiante com o coletor que dava vontade de contar a minha experiência até pro porteiro. Com medo de vazamentos eu usei um absorvente na calcinha nos primeiros dias, mas ele nem foi necessário. Cada vez que eu tirava o copinho cheio, morria de orgulho.

Desde então já passei três ciclos com o coletor, e aprendi muitas coisas. Não tive nenhum vazamento, mas as vezes fica um pouco de secreção com sangue na calcinha (geralmente o que já estava no canal vaginal antes do coletor, e um protetor diário de calcinha basta pra evitar manchas). Tirar o coletor no banho facilita o processo, e passar um pouco de lubrificante nas bordas torna a inserção bem mais fácil. Como ele pode ficar até doze horas lá dentro, não precisei trocar em nenhum banheiro público nojento. Sempre acho algum local com pia individual no meio tempo. Mas sempre saio com uma garrafa de água, pois se precisar trocar em uma cabine de banheiro sem pia basta dar uma enxaguada antes de colocar novamente. E gente, o mais mágico: dá pra fazer xixi sem se preocupar em molhar a cordinha do O.B.!

Mas nem tudo são flores. O copinho piora um pouco minhas cólicas (efeito que o O.B. também tinha), e tem dias que ele parece não colaborar e demora diversas tentativas até abrir lá dentro. O preço não é super amigo também (cerca de R$ 80, dependendo da marca), e pode ser necessário adquirir mais de um até achar a tampa para a sua panela, dependendo de fatores como a altura do seu colo de útero, seu tônus muscular, etc e tal.

De um modo geral, tenho achado a experiência muito positiva. Aprendi bastante sobre minha pepeka e passei a ver o sangue da menstruação de uma maneira mais natural, com menos nojinho – quando ele está dentro do coletor ele parece apenas sangue. Quando estou sem cólicas, realmente esqueço que estou menstruada usando o coletor. Vou usar pra sempre? Talvez. Joguei fora todos os meus outros absorventes? Não. Em tempos de opiniões radicais pra todos os lados, o que gostei da experiência é que você pode usar o coletor quando quiser, não é como, sei lá, virar vegana e não poder mais comer carne. Se um dia deu preguiça, vai de absorvente normal sem dramas. Cansou do O.B.? Volta pro coletor. Afinal, quem manda na sua vagina é você!

*** Dicas importantes:

  • Pesquise mais do que eu pesquisei quando for comprar o seu. Os grupos de FB oferecem várias tabelas com vantagens e desvantagens de cada modelo e marca.
  • Não economize na hora de comprar e evite os chineses, pois parece que eles não especificam qual é o material usado nos copinhos, o que pode dar alergias.
  • Esterilize o coletor da forma correta antes do começo de cada ciclo. Na hora de trocar, pode lavar só com água ou com um sabão neutro.
  • O coletor é de uso pessoal e intransferível por motivos óbvios.
  • Não fique mais de 12 horas com ele. Pra garantir, troque a cada oito horas.
  • Não pode transar com o coletor lá dentro, tá, gentem? Tem que tirar :)

Você já usa o coletor? Compartilhe a sua experiência!

***LEIA MAIS:

– Personal trainer de vagina: a malhação do pompoarismo

– “É normal não ter orgasmo com a penetração?”

– Você tem intimidade com a sua vagina?

– Masturbação feminina ainda é tabu? Ah, se toca.

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Comentários
  • Oii! Me senti suuuper desatualizada porque nunca tinha escutado falar sobre esse coletor! E apesar de usar diu há três anos (e não menstruo desde que coloquei o Mirena), fiquei bem curiosa pra saber como é usar um coletor! Beijos

    26 de novembro de 2015
  • Pois é, já tinha ouvido falar nisso. Meu grande drama é eu tenho MUITO fluxo. Pra você ter ideia, troco de O.B. Super de 2 e 2 h nos dois primeiros dias. Uso o interno e o externo e só troco o interno quando o externo molha.
    Apesar de ter vida sexual ativa, sou casada, o que significa que as atividades não assim tão frequentes quanto no início do namoro, e não tenho filhos. Imagina: preciso de um coletor não tão largo, mas comprido pra segurar a sangaiada que jorra de mim mensalmente? #confoooosa

    30 de novembro de 2015

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