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Por que é tão difícil conciliar amor e desejo na mesma relação?

A mesma mão que afaga os seus cabelos precisa saber a hora de puxá-los até arder a nuca. Uma pessoa doce e gentil que também tenha pegada e sussurre baixarias ao pé do ouvido. Você quer alguém para construir um lar e uma família, compartilhar valores e sonhos. Um porto-seguro. Porque amor é estabilidade, cumplicidade, respeito, proteção, permanência. Quando você tem a sorte de encontrar, o desafio muda. Porque aquela cama com edredom e mil travesseiros que você decorou igualzinha às da revista, de repente, parece macia demais. E aí você sente saudade de transar no desconforto do carro, do tempo em que areia na bunda não era incômodo, do frio na barriga de percorrer o corpo do outro pela primeira vez. Percebe que tesão tem a ver com novidade, perigo, mistério, imprevisibilidade, surpresa. Então você exige do outro o maior dos paradoxos: “me dê rotina e me dê aventura”. O dilema do amor moderno se resume a uma pergunta… Podemos desejar aquilo que já conquistamos?

A aflição está na mesa do bar que divido com as minhas amigas, nos chás de lingerie que realizo, nos e-mails de leitoras do Pimentaria. “Socorro, não tenho mais vontade!”, dizem. Vontade por quem amam, que fique claro. Muitas confessam atração e envolvimento com terceiros – o proibido sempre foi erótico, não? Todas querem a receita que leva de volta à paixão, um pó qualquer que se misture ao feijão de cada dia. Imploram por isso como se eu, apenas por escrever sobre sexo, não tivesse minhas crises de libido. Anos atrás, participei de um workshop com a terapeuta sexual Esther Perel. Eu estava lá para observar e entrevistar a mulher que havia vendido milhões de livros sobre como driblar as armadilhas do casamento. “Intimidade não é garantia de sexo, muito menos de bom sexo” foi uma das frases que ouvi dela e ainda ecoa dentro de mim.

O que ela quis dizer com isso? Primeiro que estar tão próximo emocional e fisicamente de alguém inibe o desejo. Você deixa pra amanhã ou depois de amanhã porque, afinal, o outro estará sempre ali à disposição e ao alcance das suas mãos. Hoje o capítulo da novela está imperdível ou você chegou estressada do trabalho ou deu preguiça de se depilar. Desculpa atrás de desculpa, esgotam-se dias e semanas inteiras sem contato sexual. E por que não é garantia de BOM sexo? Você pode andar pelada pela casa, cutucar as espinhas das costas dele, fazer xixi de porta aberta… E não pedir que ele procure um urologista para tratar da ejaculação precoce, morrer de vergonha de contar que fantasia com um ménage à trois ou que adora sexo oral. Gosto de definir “intimidade” como a capacidade de dizer para o outro aquilo que talvez seja difícil dizer para si mesmo – e ter a maturidade de ouvir dele algo que talvez não seja lá muito fácil também.

Amor e desejo são duas necessidades humanas fundamentais. Conciliar ambas numa relação só é algo recente na sociedade. Décadas atrás, na geração dos meus bisavós e avós, o matrimônio era muito mais uma instituição econômica do que um pacto amoroso. As pessoas se uniam para ter filhos, status social e companhia por toda a vida. Para Esther Perel, hoje esperamos que, além disso, o outro seja nosso melhor amigo e um amante apaixonado. Imagine o inverso: alguém pedindo a você que seja provedora da casa, uma parceira leal, uma mãe exemplar, uma profissional invejada, uma esposa atenciosa, uma mulher sexy e fogosa. Parece pesado, não? Pois é. A gente quer isso e aquilo, com cobertura de caramelo e chantilly, por favor. A crua verdade é que estamos exigindo demais do outro. O que VOCÊ está fazendo para ter uma vida sexual mais satisfatória? Você toma a iniciativa?

Esther, minha guru, me ensinou que a espontaneidade do sexo numa longa relação é um mito. O tesão não cai do céu enquanto a gente lava a louça e bota as crianças para dormir. Tá, eu sei que antes bastava ele encostar em você para saírem faíscas. Mas, oi, isso acabou – simplesmente porque é assim que funciona. Mesmo que você se apaixone perdidamente por outra pessoa, a tal crise vai acontecer de novo com o passar dos anos. Manter o desejo requer foco e esforço mútuo. Assim como praticar uma atividade física, dá aquela preguiiiiiiça, depois você se sente revigorado e quer mais. Encare o sexo como uma tarefa na sua agenda de compromissos. Uma tarefa prazerosa, um tempo para desfrutar da intimidade com quem você ama. Pode ser, sei lá, às quintas-feiras.

Não significa que, necessariamente, vocês vão terminar a noite num orgasmo fenomenal. Apenas que vocês vão deixar os filhos com a avó, ou vão sair para jantar, ou vão abrir um vinho e conversar, ou vão tomar um banho juntos, ou vão massagear o outro… Os casais eróticos preservam sua privacidade, abrem brechas para um encontro intencional em meio a tantos desencontros da vida a dois. Nas palavras de Esther, numa palestra do TED (clique para assistir), eles entendem que sexo não é um espaço em que você precisa ser politicamente correto e que preliminares não são aqueles cinco minutos antes da penetração. Tem a ver com o elogio de manhã e a mensagem safadjenha de celular durante a tarde. E o mais importante… “Eles sabem que a paixão vai e volta, como a lua. Que tem eclipses de vez em quando. E sabem que conseguem ressuscitá-la”.

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Comentários
  • putaquepariu, pimentinha! Que texto foda, lindo, verdadeiro! Me senti acolhida e compreendida. E ainda um tapinha amigo lembrando de que a vida é assim. Um beijo!

    21 de maio de 2014
  • Que belo texto, Nathalia. Como você disse em um post anterior, “é o amor trabalhador” Pois é, por uma vida afetiva com menos preguiça e mais tesão. Bjs.

    21 de maio de 2014
  • adoro o pimentaria, porque ajuda a desmistificar algumas questões do sexo, eu achava que era pervertido, pois queria sexo toda semana, mas to vendo que não era um problema meu, e quanto menos sexo ela me dava, mais tarado eu ficava. quem nao come em casa, nao morre de fome, tem que comer em outro lugar. enfim bjos te adoro o sitio…..

    21 de maio de 2014
  • Muito Bom ..você descreveu de forma clara e bonita, como sempre (um pouco de tietagem) o que todos casais passam, mas poucos param para compreender e trabalhar para melhorar as atitudes.

    Muitas vezes filmes, novelas, livros e até casais com quem convivemos nos faz pensam que estamos fazendo algo errado, que somos os únicos passando por aquilo..ha sonho nosso e deles!!

    É bom quando nos inspiramos em outras histórias para melhorar nosso comportamente e não nos martirizarmos baseado nas estórias contadas por outros que passam pela mesma rotina.

    21 de maio de 2014
  • Nath, quando vi o tema já me senti aliviada. Quando li o texto me senti totalmente compreendida em saber que aquela preguiça que bate de vez em quando é natural. Mesmo assim vou seguir suas dicas pra não me acomodar nessa desculpa! O tesão é essencial.
    Brigada pelo texto incrível, mais uma vez.
    Beijos,

    Carol

    21 de maio de 2014
  • Otimo texto! Bjs

    21 de maio de 2014
  • Olha!! muito legal! Realmente não se pode ter tudo…então…mãos à obra…sejamos criativas…e vamos viver experiências…srsrrs

    21 de maio de 2014
  • Nat, Nat sua safadjenha kkkkkk cada vez mais nos presenteando com coerência, bom senso e o mais importante: cutucadas na medida certa para provocar as nossas melhores atitudes. texto ótimo, sem reparos! bjo grande querida!

    22 de maio de 2014
  • Nat, vc ainda escreve p alguma revista?

    22 de maio de 2014
  • Sensacional o texto!
    Parabéns :)

    23 de maio de 2014
  • Muito bom. E sinceramente, não é só no mundo “hetero” que isso acontece, tenho o mesmo dilema, até queria opiniões quanto à isso… É bem complicado. Mas, realmente, me senti compreendida, e isso é ótimo.

    16 de dezembro de 2014
  • Adorei a matéria, é simplesmente clara e objetiva. me deu uma luz no fim do túnel
    ,

    1 de janeiro de 2015
  • É normal essa oscilação em relação ao sexo,mas se o casal conversar e expor o que cada um quer, fica muito mais facil chegar num acordo,por mim todo dia tá ótimo, para a esposa 2 vezes na semana,então você vai ter que trabalhar para faze-la querer todo dia.Como ?Ver o que falta pra estimular o libido dela,aí vem o diálogo, no meu caso várias coisas,me propuz a mudar!
    Passei a dar mais atenção, a namorar,a mandar mensagens picantes,a agarrar ela em casa escondido dos filhos,a dar mais emoção, nossa freqüência passou a 5 vezes na semana,se está cansada a noite,acordamos meia hora antes pela manhã, por isso temos que ter dialogo e ser eternos namorados !

    11 de março de 2015
  • E quando você tem iniciativa, tesão, se arruma, agrada… Nem casou ainda… E ele não responde? Chega a passar pela minha cabeça que talvez ele tenha outra porque não é natural. E não começou agora. Já tem quase um ano. Minha melhor amiga me olhou com uma cara estranha e disse, “como assim vocês transaram pela ultima vez a um mês atrás? Você não sente vontade?” EU MORRO DE VONTADE. Eu tenho que me virar sozinha. Isso acaba refletindo no meu humor com ele, nos dias de tédio… Por que? Temos 20 e poucos anos. Saudáveis (aparentemente) e no primeiro ano de namoro a gente chegava a fazer várias vezes por dia. Oi? Por que isso mudou? :(

    5 de junho de 2015
    • Pergunte pra ele,ele tem que responder o que está acontecendo !
      Não é normal na idade de vocês !
      Algo de errado está acontecendo !
      Seja franca ,é muito melhor !
      Boa sorte !

      5 de junho de 2015
      • Já conversamos. Falei pra ele que sentia falta, se ele achava que isso era normal. Nada mudou.

        6 de junho de 2015
        • Ele não disse porque isso está ocorrendo ?
          Você tem que rever o tipo de relação que vocês estão tendo,com o passar do tempo,vai piorar !
          Abra o jogo,se isso te incomoda, melhor partir pra outro !

          9 de junho de 2015
    • Ana,

      Sem falsos disse isso, disse aquilo, não diga isso, não diga aquilo, e nem meta o bedelho onde nem foi chamado, mas…

      Metendo a colher na sua sopa.

      Troque de namorado, esse por mais que você ame, que esteja apaixonada, não vai em frente. Cuide de si, pense em você, porque homem que é egoísta – e o seu namorado tem toda pinta -, não ajuda mulher a crescer, a se sentir bem, a ver a relação como algo de futuro.

      Pense que uma relação é boa e prazerosa, com alguém com quem se pode dividir o mundo, não apenas momentos esparsos.

      Cuide de você. E bola pra frente que atrás vem gente.

      1 de setembro de 2015

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