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Pílula anticoncepcional e baixa libido

“Parei a pílula uns meses atrás”, uma amiga confessou, entre goles de caipirinha. “Ai, é agora: ela vai me convidar pra ser madrinha do filho que está esperando”, emocionei – do tipo lagriminha no canto do olho. Não era nada disso. Acionei então o modo educadora-sexual-em formação para discursar sobre outros métodos contraceptivos quando veio a segunda parte da frase: “Nath, nunca estive tããããão tarada”. Não era a primeira vez que ouvia algo assim. Embora soubesse que a culpa estava na dança dos hormônios, não soube explicar exatamente o fenômeno. Será que a pílula pode realmente interferir na libido, no desejo sexual das mulheres? Recuperei os e-mails de duas malaguetas e pedi socorro à ginecologista obstetra Ana Lang, do Rio de Janeiro.

1) Tomo pílula desde os 17. No começo desse ano, percebi que minha libido estava muito comprometida. Não tinha vontade de transar, não pensava em sexo e, mesmo com todos os esforços do meu namorado, não conseguia entrar no clima nem com as preliminares. Minha ginecologista aconselhou interromper a pílula por uns três meses e depois mudar de laboratório. Percebi a alteração imediata: minha atividade sexual aumentou imensamente, meu namorado até ficou assustado… agora queria o tempo todo e iniciava todas as relações! Troquei de pílula e passou aquele período de libido intensa, mas mantenho a vontade e transo regularmente.

2) Parei a pílula por três meses para fazer exames médicos. De repente, eu tinha desejo o dia inteiro e só pensava nisso. Antes eu já tinha uma vida sexual bacana, mas percebi que a intensidade e o tesão cresceram. Fiquei bem mais “tarada”. Depois desse breve período, voltei a tomar a pílula, mas estou pensando em métodos alternativos para fazer com que a libido em alta seja uma constante. O namorado agradeceria…

PIMENTARIA – A interrupção da pílula mexe com a libido mesmo ou isso é um mito? De que forma ela pode atrapalhar o tesão das mulheres?

ANA LANG – O corpo das mulheres que não usam métodos contraceptivos hormonais reage mensalmente, se preparando para receber uma possível gravidez. Por isso, ela se sente mais disposta para procurar pelo parceiro. O uso do anticoncepcional impede a ovulação, reduz a quantidade de andrógenos produzidos pelos ovários e estimula uma proteína (SHBG) que “atrapalha” a testosterona [o hormônio bafônico que nos faz subir pelas paredes].

PIMENTARIA – Existem anticoncepcionais que não oferecem esse efeito colateral?

ANA LANG – Algumas pílulas têm três doses diferentes de hormônios, de acordo com a fase do ciclo, imitando níveis hormonais normais. Elas são menos propensas a causar efeitos colaterais, incluindo baixa libido. Boas opções também são as pílulas com alta atividade androgênica ou baixa atividade progestágena [hello: se você não entendeu, comente sobre isso com o seu médico]. É importante esperar pelo menos três meses com o método escolhido porque esses incômodos tendem a desaparecer depois do período de adaptação.

PIMENTARIA – O uso continuado da pílula, emendando cartelas, também interfere no desejo ou nada a ver?

ANA LANG – Nada a ver. Quando se emenda a cartela você está apenas evitando a menstruação. Com ou sem a pausa, seu ovário está com a função reprimida.

PIMENTARIA – Qual a melhor alternativa de método contraceptivo para a mulher com este tipo de queixa?

ANA LANG – Não há um método universal: o que a sua amiga escolheu pode não ser o ideal para você. Todos os métodos hormonais diminuem a produção de andrógenos pelos ovários. Mas os anticoncepcionais injetáveis, o anel vaginal* ou o adesivo transdérmico** interferem menos no nível de testorena livre [ou seja, malaguetada, não fodem tanto com a libido]. SEMPRE converse antes com o seu ginecologista.

*É um anel de silicone que libera baixas doses de hormônios, inibindo a ovulação e evitando a gravidez. A própria mulher o introduz e retira com facilidade. Ele deve ser colocado no primeiro dia da menstruação e mantido por três semanas. Pausa sete dias sem o anel para que aconteça a menstruação. Depois, um novo anel deve ser inserido. A vantagem: a mulher só precisa se preocupar uma vez ao mês, o que reduz bastante os índices de falha por esquecimento. O anel fica lá dentro mesmo durante a relação sexual – normalmente, nem a mulher nem o parceiro sentem sua presença. Vale lembrar que ele não protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DST), então use com a camisinha.

**Ao ser colado na pele, os hormônios do adesivo são absorvidos e caem na corrente sanguínea, diminuindo a incidência de efeito colateral no organismo. A paciente não precisa lembrar de tomar um comprimido diariamente e, se decidir engravidar, pode ovular depois de um mês de suspensão do adesivo. Também não protege contra as DST.

PIMENTARIA – O anel vaginal não escapa durante a penetração? Se ele sair, basta colocá-lo de volta ou um incidente desses ferra com toda a proteção do mês?

ANA LANG – Pode acontecer. Caso o anel saia da vagina, lave-o e recoloque o quanto antes. Se ele ficar fora por menos de três horas, você ainda estará protegida de uma gravidez. Mais do que isso, é necessário usar um método adicional de controle da natalidade durante os próximos sete dias.

 

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Comentários
  • Comigo é sempre assim, se paro de tomar a libido fica em alta, se continuo não tenho vontade alguma. É complicado, e olha que já troquei de anticoncepcional umas duas vezes.

    18 de junho de 2014
  • Isso já aconteceu comigo sim! Não é mito. Tomei uma determinada pílula que além de inibir a minha libido, impedia que eu ficasse lubrificada quando uma pontinha de desejo aparecia. Era muito desconfortável, sem a lubrificação não rola. Ainda bem que cheguei à uma pílula que não ibine meu desejo ou minha lubrificação.

    18 de junho de 2014
  • Isso ai não funcionou comigo não, já estou a quatro meses sem tomar pílula e o meu tesão não voltou, não sei mas o que fazer há tempos não sinto vontade de fazer sexo o fogo sumiu foi embora.

    19 de junho de 2014

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