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Ginecologista do esporte: “Algumas atletas preferem competir na TPM”

(Getty Images)

Atletas mulheres são heroínas. Além da dedicação integral ao esporte, algo que independe do sexo, elas ainda precisam vencer os inconvenientes do ciclo menstrual. Imagine acordar com aquela cólica demoníaca e ter um dia inteiro de preparo físico – esteira, musculação, abdominais… Ou um campeonato de natação justo quando o fluxo está mais pra Cataratas do Iguaçu. Durante muito tempo essas questões femininas, capazes de influenciar na performance profissional, foram subestimadas pelas comissões técnicas.

A médica Tathiana Parmigiano foi pioneira na ginecologia do esporte e atua, desde 2011, com o Time Brasil, do Comitê Olímpico Brasileiro. É a doutora das meninas das seleções de judô, futebol, ginástica artística, handebol, atletismo de velocidade, vela – além de atletas do polo aquático, natação, maratona aquática e vôlei. Nos bastidores, seu trabalho é estudar individualmente as atletas e minimizar os sintomas negativos daquele período mensal que toda mulher conhece. Uma das estratégias programa a menstruação de acordo com o calendário de provas delas – com o uso continuado de anticoncepcionais.

– Como o ciclo menstrual pode afetar o desempenho das atletas?

TATHIANA – Às vezes, a menstruação atrapalha por se sentirem mais fracas pela própria perde de sangue, o que pode prejudicar não só a força como também agilidade e precisão. E pelo uso do absorvente ou mesmo a preocupação com um vazamento de sangue, por exemplo num kimono branco ou maiô, afetando a concentração delas. Além disso, a TPM pode envolver sintomas físicos (cólica, dor nas pernas ou nas mamas, dor de cabeça e lombar) ou alterações de humor (irritabilidade, alteração de sono, choro fácil). Dependendo da intensidade, esses sintomas interferem na performance esportiva. Mas menstruação e TPM não incomodam todas as mulheres, por isso elas devem ser avaliadas individualmente.

– Por que a maioria prefere competir depois de menstruar? Tem que prefira competir na fase da TPM?

TATHIANA – A maioria das atletas se sente melhor depois da menstruação porque o hormônio predominante nesse momento é o estrogênio. A segunda fase do ciclo menstrual é marcada pela progesterona e engloba o período da TPM e isso, por si só, já é determinante. Algumas meninas não se importam com a TPM e até se aproveitam dela. Nos esportes de contato como lutas, uma pequena dose de irritabilidade pode deixá-las em alerta.

Ginecologista do esporte, Tathiana Parmigiano trabalha com algumas das melhores atletas olímpicas do país (Foto / Reinaldo Ortlieb)

Programar a menstruação de acordo com o calendário de provas é, além de estratégico, uma alternativa saudável para elas?

TATHIANA – Antes de ser uma estratégia, é uma opção. O grande ganho é que elas tenham possibilidade de escolha. A atleta que se conhece a ponto se saber quando se sente melhor em relação ao seu ciclo menstrual deve usar isso [a programação da menstruação por meio de anticoncepcionais] a seu favor. Porque quando ela chega aos Jogos Olímpicos, por exemplo, essa batalha está vencida e pode se preocupar com outras coisas. É também uma alternativa saudável: algumas têm fluxo menstrual grande (células sanguíneas carregam oxigênio, essencial a qualquer performance, e uma perda sanguínea pode levar à anemia) e sofrem com a TPM inclusive na vida pessoal (sintomas depressivos ou de ansiedade, dificuldade de decisão, compulsão alimentar etc).

– Pílula anticoncepcional pode cair no doping?

TATHIANA – Algumas substâncias que constituíam certos anticoncepcionais caíam, sim. Não são nossas opções. Mesmo assim, toda medicação usada por um atleta de alto rendimento deve ser previamente checada pelos profissionais que trabalham com esporte.

– Qual a importância de uma ginecologista do esporte acompanhando as meninas?

TATHIANA – A presença de uma ginecologista do esporte é a valorização das particularidades femininas. É entender que o cuidado deve ser diferente do masculino e que algumas questões, como a menstruação, podem ser planejadas. Elas passam a ter alguém para conversar sobre coisas que, por vezes, eram subestimadas ou omitidas – ciclo menstrual, sexualidade, distúrbios alimentares… Garantimos saúde e isso tem repercutido no resultado esportivo.

Quando as confederações brasileiras começaram a investir nisso?

TATHIANA – Em 2010, a seleção de judô feminino iniciou um trabalho com ginecologia do esporte de forma contínua. O mesmo acontece com o futebol desde 2012. O Comitê Olímpico levou pela primeira vez uma ginecologista do esporte [ela própria] em sua delegação nos Jogos Pan-Americanos em Guadalajara (2011). Neste ciclo olímpico, atletas de várias modalidades tiveram esse acompanhamento.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.
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