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Fogo precisa de ar – ou por que vocês não transam mais

Sexo no Cativeiro

O livro escrito pela minha guru em sexualidade

“Fogo precisa de ar”. Ouvi essa frase em 2009, durante uma entrevista com a terapeuta sexual Esther Perel (foi ali que ela se tornou, sem saber, a minha guru – e ainda vou escrever MUITO do que aprendi com ela). Nunca mais esqueci. Ela afirma que intimidade não garante sexo de qualidade. E que desejo precisa de espaço, um certo distanciamento. Algo difícil de praticar na vida doméstica, com o excesso de convivência entre marido e mulher. No livro “Sexo no Cativeiro” (leia, leia, leia!!!!), leitura muito útil para quem quer entender como a relação esfriou, Esther compara casamento a confinamento. Mostra como a proximidade aumenta a parceria do casal, mas pode apagar o tesão. Por um lado, queremos a segurança e a estabilidade. Por outro, queremos mistério e imprevisibilidade.

Lembrei das palavras de Esther quando assisti, tempos atrás, o filme “Um divã para dois”. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) são casados há 31 anos e dividem apenas um teto. O resto foi se perdendo ao longo do tempo e de uma rotina mecânica – dois ovos com bacon frito todas as manhãs. Não há troca entre o casal, nem conversa e demonstração de amor. Eles dormem em quartos separados e não fazem sexo há cinco anos, desde que os filhos saíram de casa. Então Kay cansa de arrastar sua infelicidade e gasta as economias numa terapia intensiva para casais com o Dr. Bernard Feld (Steve Carrell). Ela quer resgatar o desejo perdido. O ranzinza Arnold, acomodado ao tédio do casamento, reluta mas acaba cedendo à ideia.

Desconfortáveis no divã, enquanto tentam entender como chegaram à triste condição, os dois se reencontram. Kay quer ser tocada, em todos os sentidos. Beijar na boca e andar de mãos dadas. Ela não se masturba porque dói lembrar o prazer que não tem mais. Arnold argumenta que desistiu depois de repetidas recusas da esposa, sempre mais preocupada com o jantar dos filhos ou com a louça suja. A resistência de Arnold à mudança e a inocência sexual de Kay são ao mesmo tempo cômicas e dramáticas. Ela quer renovar os votos matrimoniais, ele pensa num ménage a trois com a vizinha. O terapeuta descobre que o sexo deles era um eterno “papai-mamãe”, sem direito a oral ou fantasias. “Era ok”, resume Kay. E porque era só isso, foi deixando de fazer falta. Durante as sessões, Dr. Feld passa exercícios ao casal, como dormir abraçados ou tocar sensualmente o corpo do outro.

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O fantástico filme “Um Divã para Dois”

Não conto mais, querido leitor, para não estragar a delícia que é o filme. Mas a ausência de desejo sexual não é azar dos personagens sexagenários. Como diz Esther Perel, “se no passado tínhamos vergonha porque fazíamos sexo, agora temos vergonha quando não fazemos.” Conheço muitos jovens casais que sofrem com o marasmo de seus lençóis king size, namorados com vinte ou trinta e poucos anos frustrados (ou, pior, resignados) por transar uma ou duas vezes por mês. Algumas amigas comentam: “não lembro a última vez em que transamos” ou “amo muito, mas acabou o tesão”. Os parceiros rebatem: “ela sempre tem uma desculpa quando a procuro” ou “queria que ela tivesse mais iniciativa e não parecesse uma boneca inflável”.

São desejos desencontrados, expectativas depositadas no outro, falta de diálogo, acomodação. Das semanas de prazer adiado, nascem as brigas infantis e as abordagens desajeitadas. Você desaprendeu a seduzir e tudo parece como forçar a barra. Ou tem vergonha de mostrar quando quer e prefere esperar que o outro perceba. É um paradoxo desgraçado: o casal fica distante porque está perto demais. Alguns especialistas sugerem que a gente marque o sexo na agenda, assim como uma consulta no dentista ou uma reunião de trabalho. Bem na linha do “faz cinco dias que não transamos, o que posso fazer com isso?”. Falta espontaneidade, você vai dizer. Mas encarar o sexo como uma tarefa que também precisa de atenção, esforço e criatividade pode ajudar muito. Ao encontrar uma anotação dessas no calendário da agenda ou do celular, basta vestir uma lingerie mais sexy ou comprar um vinho a caminho de casa. Não precisa abrir a porta e as pernas / o zíper, feito robô. Dá para reinventar a vida sexual nas sutilezas.

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Comentários
  • Não canso de dizer, vc é incrível!!! O texto diz tudo, percebo muito isso entre as mulheres com quem convivo, sejam elas de 20, 30, 40 ou 50. E quanto ao filme, assisti com lágrimas nos olhos do início ao fim, é lindo, tocante… e como vc disse, cômico e triste ao mesmo tempo, principalmente quando percebi que um amor tão cheio de vida pode acabar naquilo. Dá um medo grande, como quem namora há 5 anos e já sente na pele o que a rotina pode fazer com o amor, com o tesão. E olha que faço parte de uma geração que está na casa dos 20 (e poucos), com cabeça aberta, sem frescuras, por assim dizer…mas que vive frustrada! :(

    13 de maio de 2014
  • Nat, esse post eh mt importante, mt real, vc fala tudo! Nessa parte de nao tomar a iniciativa, me identifico. Na maioria das vezes fico timida, me sinto insegura, ou n sei mesmo o q fazer. Gostaria q vc falasse mais sobre, q desse umas dicas! Bjs

    19 de maio de 2014
  • O trecho que você cita o paradoxo é fantástico! Ao mesmo tempo que nos aproximamos e contamos segredos, com o tempo as descobertas se esgotam e a rotina entra no relacionamento. Fazer com que essa redescoberta seja continua e iniciada pelas duas partes é realmente um desafio! Adorei seu texto!

    4 de março de 2016
  • Fica tudo muito complicado para a vida da gente. tantos truques para a sobrevivência.

    18 de julho de 2016

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