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Desprincesamento: oficina propõe outros modelos para as garotas

(Getty Images)

“O sonho de toda menina é torna-se princesa”. O slogan (e o propósito) da Escola de Princesas, agora com filial em São Paulo, gerou uma tremenda polêmica nas redes sociais. Já dei minha opiniãozinha aqui: a iniciativa remete ao século XVI, quando senhoras distintas davam aulas de etiqueta às jovens da corte francesa – cujas possibilidades na vida se resumiam a arrumar um marido abastado, parir e cuidar de seus herdeiros.

Hoje as meninas têm diversos modelos femininos nos quais podem se espelhar, embora insistam em lhes apresentar apenas um. Não, elas não precisam casar nem mesmo ter filhos. Não devem enlouquecer tentando se encaixar nos padrões de beleza. Sim, podem se realizar profundamente com a carreira. Também têm todo o direito de transar com um cara ou uma mulher por dia. E por aí vai.

Apostando na importância desse debate, a jornalista Mariana Desimone e a pedagoga Larissa Gandolfo lançaram a oficina de “Desprincesamento”. A primeira edição rola no mês de dezembro, em São Caetano do Sul (SP). Elas fizeram treinamento com o Escritório de Proteção de Direitos da Infância, do Chile, pioneiro no empoderamento de garotas entre 9 e 15 anos por meio de atividades práticas sobre estereótipos de gênero, autoimagem, autodefesa etc.

– Por que vocês consideram que educar meninas para serem “princesas” é um problema – a ponto de criarem uma oficina contestando esse movimento?

LARISSA – Quando nos propomos a “educar para” qualquer coisa que não seja a liberdade individual, limitamos as possibilidades de quem está recebendo essa educação. É preciso pensar nas motivações de um responsável ao colocar sua filha em uma escola de princesas, cuja proposta acredita que o objetivo maior da vida de uma mulher é o matrimônio, que nenhuma realização profissional poderá suprir esse grande fim da vida da mulher. Nossa indignação não recai sobre as princesas enquanto ícones de cultura infantil nem com a possibilidade de uma menina ter (ou não) o sonho de casar. Mas sobre a determinação desse modelo como único.

MARIANA – Queremos investir na autoconfiança delas porque já são perfeitas e inteiras (em vez de “a metade de uma laranja” ou “uma panela sem tampa”), são tão capazes quanto os meninos, podem brincar das mesmas coisas que eles… Não argumentar coisas como “mulher tem que saber arrumar a casa, se pentear e se maquiar como princesa” ou resgatar valores retrógrados como “se guardar para o casamento”. Para mudar a realidade nosso país, onde uma mulher é assediada a cada 11 minutos, devemos apostar em outros ensinamentos para as meninas.

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A pedagoga Larissa Gandolfo e a jornalista Mariana Desimone, idealizadoras da primeira oficina de Desprincesamento no país (Divulgação)

– Vocês fizeram um treinamento com o pessoal do Chile e adaptaram o conteúdo para cá? Que atividades e discussões vão rolar com as meninas?

LARISSA – Foram duas semanas de treinamento intensivo, por vídeo conferência, com materiais deles e o relato de como as oficinas funcionaram por lá. Então adaptamos para a realidade brasileira, levando em conta as diferenças culturais e os diversos ambientes em que este debate sobre o desprincesamento poderia ser realizado. Diferente da Escola de Princesas, não somos uma franquia. Somos produto de uma provocação que aconteceu num determinado momento social e histórico. Vamos discutir sobre identidade, procurando entender qual a relação entre ser menina e os modelos de princesas. Apresentaremos outros modelos de mulheres e meninas que não são princesas e que apresentam inúmeras características, valores e virtudes que são tão – ou mais – admiráveis que as das princesas que elas conhecem.

– Vocês vão abordar a questão de gênero e sexualidade? Por exemplo, a expectativa de que a mulher deve casar e ter filhos; consentimento e assédio sexual etc.

MARIANA – Sim. Queremos mostrar que a menina também ser pintora, escritora, executiva, ter filhos ou não, casar ou não, gostar de homem, mulher… o que importa é ser feliz de acordo com as próprias regras.

LARISSA – Uma arte educadora fará uma atividade sobre beleza para desconstruir a “estética da princesa” e reforçar que as mulheres não são objetos decorativos. Também vamos discutir assuntos relacionados a assédio, proteção do corpo, violência contra a mulher. Teremos um bate-papo sobre força, habilidades motoras e autodefesa com uma professora de artes marciais. O último encontro será com os responsáveis pelas meninas. Apresentaremos as discussões que tivemos com as meninas para debatermos sobre ambientes saudáveis de aprendizagem, sobre a desconstrução do amor romântico como a única possibilidade de ser feliz, sobre violência doméstica e sobre a educação de meninas.

– Pais e mães são figuras centrais no desenvolvimento dos filhos. Não seria importante incluí-los no processo de desprincesamento? 

MARIANA – A nossa oficina terá a duração de três dias. Os dois primeiros serão apenas com as meninas e o terceiro, com mães e pais. Acreditamos que é importante uma ação em conjunto com as meninas – não apenas sobre elas.

LARISSA – É essencial que os responsáveis estejam envolvidos. Por outro lado, as protagonistas dessa oficina são elas – matéria prima, ferramenta e produto final. A menina que chamaremos de “desprincesada” foi estimulada a encontrar diferentes modelos e possibilidades de existir como mulher. Ela se libertou da necessidade de ser algo que não tenha escolhido para sua vida.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

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Comentários
  • Acho excelente que a mulher seja independente. Tenho uma netinha de nove anos que incentivo a aprender artes marciais. E ela tem feito judo. Porém também dou força para o seu sonho de ser princesa. Além dela demonstrar forte tendência de ser uma Chefe de Cozinha , pois ela adora assistir Máster Chefe Mirim e sempre pede para avó para fazerem coisas juntas na cozinha. Mas também quer ter um grande amor e viver viver feliz para sempre tendo três ou quatro filhos. Não é lindo ter um princesinha em casa? Eu adoro!!!

    10 de dezembro de 2016
  • Como posso ter acesso a comentários de outros seguidores do site? Amo as pimentices daqui. Vocês estão de parabéns. Beijos.

    10 de dezembro de 2016

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