HomeEducaçãoCaça às bruxas, mulheres que “transavam com o demônio”
caçabruxas

Caça às bruxas, mulheres que “transavam com o demônio”

(Getty Images)

Terminei de ler “O Livro do Amor”, resultado de uma pesquisa da psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins que durou cinco anos e cruzou informações de mais de duzentas obras. Ela narra práticas e crenças sobre a sexualidade ao longo dos séculos. E discute o impacto de tudo isso na forma como nos relacionamentos hoje em dia. O trecho sobre a “Caça às Bruxas” é particularmente chocante e, por isso, quis dar uma palhinha aqui…

No final da Idade Média, rolou um burburinho dos infernos pras bandas da Europa Ocidental. O disse-me-disse dava conta de que forças do Mal planejavam acabar com os reinos cristãos. Nasceu aí a figura do Diabo, que aterrorizou geral e precisou ser combatida pela Igreja Católica. Tudo que acontecia de ruim era coisa do chifrudo: tempestades, más colheitas, pestes etc. Até o Papa se pronunciou alertando sobre os perigos da chamada “feitiçaria”. Mas, putz, como exterminar um inimigo invisível?

A narrativa religiosa predominante na época afirmava, com todas as letras, que a miséria humana era fruto do pecado original de Eva (“Quem mandou comer a maçã proibida? ”). Todas as mulheres seriam, por natureza, reflexo dessa fraqueza de caráter – mentirosas, insolentes, sexualmente insaciáveis. Presas fáceis, algumas teriam se deixado seduzir pelo Diabo e transado com ele, adquirindo poderes malignos e sobrenaturais. Em defesa do Bem, inquisidores encarregaram-se de caçar essas “bruxas”.

Qualquer acontecimento ou comportamento levantava suspeitas. Tipo a perda de um bebê ou uma queda da escada ou a impotência do marido, olhar fixamente para o chão ou possuir um terço cuja cruz tivesse um dos braços quebrados ou ter orgasmos. Inventaram até a profissão do “alfinetador”, um cara que procurava no corpo das mulheres evidências do sexo com o Diabo. A regra era enfiar agulhas em marcas como verrugas e manchas. Se não provocasse dor ou sangramento, estava comprovada a heresia. Bastava um boato para que a criatura “subversiva” fosse parar nas mãos das autoridades.

O interrogatório consistia numa série de estratégias para “obter a verdade” da ré. Por exemplo, derramar óleo fervente em seus pés ou agulhas sob suas unhas. A violência seguia até que, arrebentada de dor, a mulher ~admitisse~ o que seus algozes queriam ouvir. “Sim, eu uso um pedaço de madeira para voar a noite. Sim, transo com o Diabo e o pênis dele é colossal e seu gozo parece glacial. Sim, também mato gatos e criancinhas com requintes de crueldade”. Historiadores calculam que mais de 320 mil pessoas tenham morrido na fogueira por bruxaria. Cerca de 85% das vítimas dessa perseguição eram mulheres.

Num ritual público, diante da multidão, autoridades religiosas e judiciais expunham as bruxas nuas. Queimavam seus corpos com ferros em brasa, decepavam seus seios, empalavam o ânus. O enforcamento era tortura “boa” pelo fim rápido. Pior quando as amarravam em estacas, acendendo piras de graveto embaixo para que queimassem devagarzinho até a morte. Agora você já sabe o que querem dizer aqueles cartazes em manifestações feministas: “Somos as netas das bruxas que não conseguiram queimar”.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

*SIGA PIMENTARIA:

– Facebook/napimentaria

– Instagram @pimentaria

– Twitter/napimentaria

– Youtube/napimentaria

Compartilhar:
Sem Comentários

Deixe um comentário