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As cenas gays de Wagner Moura no cinema – e o Capitão Nascimento que há em nós

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Wagner Moura no filme em que faz cena de sexo gay

Em cartaz nos cinemas, o filme Praia do Futuro traz cenas de sexo entre os personagens de Wagner Moura e do alemão Clemens Schick. Sim, sexo gay. No escurinho das salas, conforme a trama avançava, alguns se levantaram de suas poltronas rumo à saída (de emergência?). Esbravejaram algo como “ÓÓÓÓ, que absurdo! Cadê o Capitão Nascimento pra botar ordem nesta putaria?” e foram engolir suas pipocas noutro lugar. Embora essa homofobia não me desça goela abaixo, acho legítimo o direito dos incomodados de se retirarem.

Mas a polêmica começou por outro motivo. Um cliente publicou no Facebook uma foto de seu ingresso com o carimbo “Avisado”. Isso porque, segundo ele, a bilheteria havia alertado para cenas homossexuais. “É como se dissessem ‘olha, você vai ver um filme de viado, tudo bem?’”, o denunciante declarou à imprensa mais tarde. Um funcionário da rede de cinemas teria confirmado tal conduta por receio do público conservador. A empresa nega e diz que tudo não passou de um mal entendido. Ligeiríssima, a produção de Praia do Futuro postou uma faixa com a hashtag #homofobianãoénossapraia.

E a internet, bom, a internet não perdoa. O publicitário mineiro Eduardo Noronha criou o Tumblr “Tá Avisado”, em que ironiza o “carimbo gay”. Há paródias maravilhosas. No ingresso do clássico Esqueceram de Mim, com o ator Macaulay Culkin nos anos 1990, alerta-se que o filme possui cenas de “abandono de menor”. Já o bilhete de Marley & Eu vem com os dizeres: “O senhor está ciente de que vai sair da sessão chorando feito uma menininha que sofreu bullying?”. Para os interessados em assistir Kill Bill, é bom saber que “membros decepados jorram como mangueiras ligadas na potência máxima”. E, no caso de optar por A Origem, adianta-se que você “não vai entender nada”.

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Do Tumblr Tá Avisado, paródias do “carimbo gay”.

O cinema reflete muito a sociedade. Aquele aparelho operado por alguém numa saleta restrita projeta mais que imagens na telona – ele NOS projeta. Você ri e se emociona com uma comédia romântica porque se identifica de alguma forma com a história. Vibra quando o vilão se dá mal porque adoraria que na vida real também fosse assim. E fica horrorizado com a transa gay porque o preconceito foi com você ao cinema. É curioso como o amor entre duas pessoas do mesmo sexo seja considerado “pesado demais”. E todas aquelas cenas sanguinolentas de violência às quais nos habituamos? Cabeças rolando, tripas saltitantes, tortura de todo tipo, estupro…

O cidadão que é incapaz de “resistir” à Praia do Futuro pode deixar a sessão, mas não pode deixar o planeta (embora seja uma boa ideia, hein). Aqui na Terra, os gays, as lésbicas, os travestis e os transexuais estão nascendo, crescendo, trepando, casando, trabalhando, indo ao cinema de mãos dadas. No cotidiano, ninguém vai “avisá-lo” de que na próxima esquina você vai encontrar uma casal de meninas se beijando. Ou que seu filho, seu chefe e seu melhor amigo ainda vão sair do armário. Se a gente aprende a lidar com o imprevisível da vida, por que não pode lidar com cenas “não avisadas”?

*Leia mais:

“Existe amor fora da caixa”

“Bom-humor contra estereótipos”

“Avô escreve carta sobre o neto gay”

“Curiosidade bissexual: significa?”

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Comentários
  • Acho que hoje em dia qualquer besteira vira polêmica. Achei acertada a coisa do cinema avisar já que é um tema “polemico” que poderia pegar de surpresa alguem desavisado que visse um cartaz de filme chamado “praia do futuro”. Eu, que não vi o trailler, e não sei nada sobre a tal praia não esperaria ver o Wagner Moura queimando a rosca. Não que fosse me causar náusea ou desconforto. Apenas não esperaria.

    Lembrando outros episódios recentes, Brokeback mountain foi divulgado como um filme sobre vaqueiros gays e, por isso, não se precisava avisar ou carimbar o ingresso. Já Protógenes, desavisado, viu o cartaz com um Ursinho de Pelúcia e levou o neto pra assistir TED e deu no que deu.

    Nos cinemas ‘poeirinha’ onde passam filmes gays, ninguém avisa que o filme tem cenas homossexuais ou carimba o ingresso. É tudo uma questão de contexto. Acredito que nos primeiros filmes com beijos de lingua se avisava na bilheteria que há cenas de beijos de lingua quando isso não era o marketing que alavancava as vendas.

    Da mesma forma, acredito que quando os gays e lésbicas estiverem se pegando pela rua livremente, ninguém mais avisará ou carimbará ingressos e o meme não existirá. Entretanto, como aparentemente tudo nesse país, as pessoas querem combater o problema pelos sintomas e não por suas causas.

    []s
    O Carioca

    23 de maio de 2014
  • Em tempo: Olha a sinopse do filme no “Adoro Cinema”

    Não recomendado para menores de 14 anos

    Praia do Futuro, Ceará. Donato (Wagner Moura) trabalha como salva-vidas. Seu irmão caçula, Ayrton (Jesuita Barbosa), tem grande admiração por ele, devido à coragem demonstrada ao se atirar no mar para resgatar desconhecidos. Um deles é Konrad (Clemens Schick), UM ALEMÃO DE OLHOS AZUIS QUE MUDA POR COMPLETO A VIDA DE DONATO após ser salvo por ele. É quando Ayrton, querendo reencontrar o irmão, parte em sua busca na fria Berlim.

    Um alemão que muda completamente a vida de um cabra-macho do nordeste, a principio, é por dicas de sabedoria ou amizade….ou incentivo pra atingir sonhos e objetivos. Não é de surpreender que pra quem só leu a sinopse e viu Wagner Moura no casting, termine descobrindo que o “olho azul” na verdade é um eufemismo pra outro olho. rsrsrsrssr

    []s
    O Carioca

    23 de maio de 2014
  • Não precisa carimbar o ingresso porque quando há cenas impróprias para menores, fica explícito na classificação do filme. Esse é o carimbo do preconceito e é ofensivo aos homossexuais. E não, eu não sou gay.
    Parabéns pelo texto Nath, sou sua fã!

    23 de maio de 2014
  • Acho super válido toda a discussão, mas segundo o que circula e foi confirmado, o carimbo de “avisado” é para quem compra meia entrada e é avisado que deve apresentar o comprovante de estudante na entrada para as salas.

    O que não descarta o preconceito, mas toda a polêmica nasceu de algo que segundo consta, não existiu.

    23 de maio de 2014
  • Não se trata de preconceito.
    Não se trata de machismo.
    Se trata de que todo homem SE SENTE DESCONFORTÁVEL COM CENAS GAY PORQUE ISSO MEXE COM O LADO FEMININO QUE TODO HOMEM TEM.
    Sim, a maioria dos homens no país morre de medo por sentir prazer quando a mulher lambe seu mamilo, mais ainda quando ela toca próximo ao seu anus.
    NO ENTANTO TODO HOMEM TEM GOSTARIA DE SENTIR O PRAZER QUE DÁ A UMA MULHER.
    Todo homem, sem excessão, apesar de negar até a morte.
    Daí a “aversão” a cenas eróticas gay.
    Simples assim .
    Conselho: se permitam experimentar.
    Sentir prazer sendo penetrado não significa ser gay.
    Apenas sentir prazer com quem voce ama, sem estúpidos bloqueios.

    23 de maio de 2014
  • Só por curiosidade: um filme com sexo (homo ou não) tem censura de 14 anos? Quando eu era pequeno (long time ago) um filme com um pouco de pentelho era censura 18 anos.

    Tempos modernos.
    []s
    OCarioca

    24 de maio de 2014

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