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Sobre turbulências e máscaras de oxigênio

Perdi a conta das vezes em que bati a porta de casa e atravessei a sala com a fúria de quem vai vomitar todos os sapos que engoliu durante o dia. No início, meu marido adotou a técnica de se manter imóvel e prender a respiração. Uma coisa meio “bom, se ela não notar a minha presença, talvez eu saia vivo”. Depois, mais acostumado, resolveu fazer graça com a minha grosseria. Se eu reclamasse que ele não estava lavando a louça do MEU JEITO, Felipe reproduzia o som dos cavalos. Sim, ele relinchava – era a forma de dizer “ei, vamos parar com esses coices gratuitos?”. Caíamos na gargalhada, a nossa bandeira branca.

Ele podia rebater meu estado de nervos com testa franzida e gritaria (“ah, a mocinha acha que só ela teve um dia complicado?”), podia ficar profundamente magoado (“pô, não mereço que você desconte em mim…”), podia achar que aquilo era um sinal de que o casamento anda em crise (“o que será que eu fiz de errado?”). A gente vive de interpretar ou refletir o comportamento do outro. E, quase sempre, tira as próprias conclusões sem SEQUER ouvir o que vem do lado de lá. Falta comunicação!

gato de botas

O olhar do gato de botas.

Uns dois anos atrás, me mandaram entrevistar uma porção de terapeutas de casais para uma reportagem. Resolvi aplicar as estratégias que indicaria aos leitores. Funcionou horrores. Hoje, quando chego com o humor de quem gostaria de ter esquartejado o chefe, digo o seguinte: “Amor, estou péssima. Não tem nada a ver com você, mas não quero conversar. Preciso tomar um banho e assistir algum programa imbecil de moda sozinha”. Ele reage com a doçura do gato de botas do Shrek, sabe? A minha capacidade de me mostrar vulnerável é diretamente proporcional ao acolhimento que recebo.

Parece simples. Não é MESMO. “A gente precisa prestar atenção no que está sentindo e ser corajoso o suficiente para manifestar pro outro”, diz a psicóloga e coach Monique Edelstein, com quem conversei para um futuro post sobre diferenças de personalidades. “O problema é que não fomos educados para olhar para nós mesmos, isso soa egoísta”. Ela faz um paralelo com as instruções de segurança que a gente ouve das comissárias sempre que pega um voo: coloque primeiro a máscara de oxigênio em você, depois no outro. Em outras palavras, se a gente não estiver bem, como pode se relacionar com alguém?

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Comentários
  • Estratégia comprovadíssima…TPM e problemas no trabalho já não são os meus “dias de fúria” desde que eu aprendi a dizer: ” Tô indo tomar um banho de meia hora por favor só me chame se for pra fazer uma massagem!!!

    21 de fevereiro de 2014
  • Não é a toa que algumas culturas e filosofias entendem que em um relacionamento o outro é um espelho de nós. Se alguma coisa desequilibra em nós, o parceiro/a parceira vai mostrar na hora o que é. E entender que nada é culpa ou responsabilidade do outro, que tudo depende de como nós decidimos agir ou sentir, é muito libertador. E exige um auto-conhecimento FDP também, senão a comunicação continua falha.
    PS.: Marshal Rosenberg e a sua Comunicação Não-Violenta são excelentes ferramentas para o relacionamento (e para a vida)!

    26 de abril de 2015

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