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Movimento pró-castidade tem milhões de seguidores

(Getty Images)

Parece coisa da Idade Média, mas até 2003 qualquer marido podia “devolver” a esposa se descobrisse que ela não era virgem quando se casou. Esse direito estava descrito no Código Civil aprovado em 1916. Bastava à “vítima” ingressar com uma ação de “denúncia” (no máximo dez dias depois do “sim, eu aceito”). Se a mulher não quisesse contestar, o casamento estava automaticamente anulado. Do contrário, ela precisava se submeter a um exame ginecológico para comprovar sua “pureza” enquanto solteira.

Daí você pensa: “ah, isso não existe mais” ou “ninguém casa virgem hoje em dia”. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (2009), rola mesmo um comportamento precoce – 28,7% dos jovens brasileiros de 13 a 15 anos já transaram. O que talvez você não imagine é a quantidade de gente comprometida com a campanha cristã “Eu Escolhi Esperar”, criada em 2011 pelo pastor evangélico Nelson Júnior. Embora soe retrógrado e na contramão de conquistas ligadas à liberdade sexual, esse movimento pró-castidade já arrebanhou mais de três milhões de seguidores nas redes sociais.

No canal do Youtube, o pastor fala ao lado da esposa sobre relacionamentos,masturbação, sexo anal, sexo oral, e, claro, sobre a hora “certa” para transar.  O interessante é que, mesmo pregando “a importância de se viver uma vida sexual forma pura e santa”, a campanha não se restringe às mulheres e nem às pessoas virgens. Os não-virgens também podem aderir – desde que mudem sua postura e, a partir de então, esperem para transar com “a pessoa certa” na “hora certa” – e, claro, sob a aprovação divina.

Tomar decisões sobre a própria vida sexual é um direito de todos. Você pode optar por transar antes ou depois do casamento, pode não querer transar nunca. Por outro lado, quando “se guardar” serve para perpetuar o machismo, controlar a sexualidade feminina e julgar pessoas (aquelas que obedecem ao chamado de Deus valem mais e por isso vão para o céu enquanto todas as outras vão direto para o inferno)… essa escolha se torna bastante questionável.

Pedi algumas opiniões sobre a polêmica. Quem concorda com a espera pelo sexo depois do casamento, costuma usar argumentos religiosos e dogmáticos do tipo “se a bíblia diz que não pode transar antes porque é pecado, não tem como refutar”, pois “é um sinal de respeito a si e ao próximo” e que “é muito importante porque hoje em dia as pessoas mal se conhecem e já transam, o sexo está ficando cada vez mais banal”. Tem ainda aquela culpa cristã de “quem quiser que transe, mas ninguém consegue enganar a Deus” e a visão se que sexo só serve para a reprodução: “sexo não é um prazer carnal, mas sim uma união espiritual que possibilita a geração de filhos, a maior bênção de um casal”.

Quem discorda da ideia alega que “tem como refutá-la sim, pois a bíblia passou longe de ser a verdade absoluta para todos” e também que “esse tipo de campanha não passa de um conservadorismo desnecessário. É impensável a ideia de se casar antes de saber se as pessoas se encaixam sexualmente. Imagina se a química não bater, se a transa não for boa. Depois vai dar muito mais trabalho pra se separar, é muito melhor experimentar antes e evitar esse transtorno”.

Alguns acham que pregar pela abstinência sexual só reforça uma grande hipocrisia: “conheço várias pessoas na campanha, mas todas já transaram” ou “tem quem faça sexo anal pra manter o ‘lacre’ para o casamento. E se proclamam puros, alardeando ‘eu escolhi esperar’” e também “Passar a mão na bunda, dedada, sarro, tudo é sexo. Bora parar de achar que sexo é só penetração”. Sei lá, fico me perguntando quantos jovens (especialmente os religiosos), se casam super novos apenas para gozar com a permissão da igreja. Vocês concordam?

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.
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