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Motoristas de apps precisam ser “guiados” contra o assédio

(Foto: Pixabay @Unplash)

Sou passageira recorrente dos aplicativos 99 e Uber. Segundo as faturas do meu cartão de crédito, são cerca de quinze corridas por mês. Como várias mulheres, sei bem o que é entrar no carro a caminho de um compromisso (seja ele reunião de trabalho ou de amigas) e ouvir coisas do tipo: “Oi, princesa”; “Não quer sentar aqui na frente comigo?”; “Você é muito mais bonita pessoalmente do que na foto”; “Tá solteira?” etc. Aquela ajustada no retrovisor pra te comer com os olhos.

Certa vez abri a porta numa parada de semáforo e saí andando – tamanho desconforto – e denunciei o comportamento do cara no app. “Vamos tomar providências”, recebi da empresa por email. Meu marido também é usuário desses apps. Nunca teve medo de ser assediado ou estuprado. Jamais se preocupou em tomar medidas por precaução. Em tirar print da tela do celular com os dados do motorista e enviar para mim. Ou compartilhar a rota. Ou ligar para conversar durante um trajeto noturno.

A gente tem o direito de ir e vir com segurança, mas se vê encurralada pelo machismo o tempo todo. Inclusive e principalmente no transporte público – nem precisa pegar o metrô das seis da tarde na Sé ou um busão em dia de chuva. Beco sem saída? Mais do que alardear e punir assediadores, é preciso educar a sociedade. Explicar, por exemplo, a diferença entre assédio e flerte. Por isso achei bem válidas as iniciativas recentes da 99 e do Uber. Se forem de fato legítimas e promoverem mudanças internas.

Em parceria com a Revista Claudia e com apoio da ONU Mulheres, a Uber lançou um vídeo-cartilha sobre “boas práticas” para seus motoristas, além de workshops online e presenciais (em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife). A abordagem inicial lembra o motorista de que as usuárias vão avaliá-lo ao final da corrida: “atitudes podem fazer a diferença na hora de garantir suas cinco estrelas”. Depois passa instruções como “Decote ou minissaia nunca são convite para nada” ou “Nunca peça o telefone ou tente adicioná-la em redes sociais”.

A 99 convidou o movimento feminista “Vamos Juntas?” para elaborar uma cartilha e realizar treinamentos presenciais e online com seus motoristas – mais de 300 já participaram. É surreal, apesar de necessário, ter que dizer como eles devem se portar com passageiras: “Não dê sua opinião sobre nada que diga respeito a ela” ou “Em hipótese alguma pergunte se ela é casada” etc. Os motoristas também aprendem como intervir caso presenciem o assédio de um passageiro contra uma passageira. Por exemplo, perguntando se ela prefere seguir viagem sozinha.

O site da campanha “Vamos Juntas de 99?” afirma que os motoristas participantes são monitorados e, se aprovados, ganham uma espécie de selo de garantia no carro. O vídeo abaixo, idealizado pela agência New Style, também funcionou como ferramenta educacional e teve milhares de visualizações. Nele, passageiras contam como se sentem quando assediadas – dentro ou fora do carro. “Não tem que dar graças a Deus que deu tudo certo. A gente não tem que passar por isso”, diz uma delas.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

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