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Mais uma história de amor

Por Ricardo Coiro*

“Má, vamos para um bar?”, sugeriu a amiga, por telefone.

“Não estou legal. Obrigada!”, respondeu Marina.

Marina, após terminar o namoro de sete anos com o Rodrigão, perdeu completamente a vontade de sair. Ela parecia ter esquecido o quanto amava sambar até o pé doer. Passava os finais de semana enfiada no quarto, acompanhada somente pela TV ligada em qualquer canal. Mantinha as janelas fechadas até para a lua cheia. Já não pintava mais os lábios de vermelho e, como se não ligasse para a beleza estonteante que tinha, não se importava em portar cutículas roídas e cabelos descuidados.

O telefone tocou novamente.

“Má, em quarenta minutos estarei aí. Não adianta se esconder. Hoje você vai sair!”, Afirmou a amiga, antes de desligar o telefone.

Ao ouvir o tom imperativo e decidido da amiga, Marina sentiu desespero e medo de ter que encarar os próprios fantasmas. Ela achava que não estava pronta para enfrentar o mundo que havia deixado para trás, em algum lugar do passado. Pensou em inventar uma desculpa para, mais uma vez, ficar com a cara na lona, ou melhor, na fronha. Porém, impelida por uma ordem interior que clamava por felicidade, aceitou a ordem disfarçada de convite.
Ela tomou um longo banho quente e deixou que a água levasse muito mais do que as impurezas dela. Permitiu que o medo de se reinventar escorresse pelo vão do ralo. Além do comprido cabelo, lavou também a alma.

“Me deixa que hoje eu tô de bobeira”, cantou, enquanto provava um dos tantos vestidos floridos que havia esquecido no fundo do armário. No espelho, admirou a beleza da própria coxa. Com ajuda do salto alto, elevou também a autoestima que andava cabisbaixa. Engoliu um Engov e a vontade de desistir. Pintou os olhos cansados de tanto chorar. Um pouco antes de partir, deu um beijo na testa da mãe que, ao vê-la novamente radiante, sorriu aliviada.

No bar, após alguns copos de cerveja bem gelada, percebeu que, na mesa ao lado, um belo moreno a devorava com as retinas. Ele sorriu e ela, sem pensar duas vezes, retribuiu com um sorriso de cinema americano. Ele a encarou e ela, esquecendo as dores do passado, mergulhou nos olhos dele. “Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí”, cantava o moço do violão quando o bonito rapaz se aproximou da mesa dela.

“Oi”, disse ele.

“Oi”, disse ela.

“Acabo de pedir uma música para o cantor. Uma música para você. Posso me sentar aqui para ouvi-la ao seu lado?”, perguntou o rapaz.

“Claro!”, ela respondeu com sorriso no rosto.

“Morena, dos olhos d’água, tira os seus olhos do mar. Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra te dar”, cantou o moço do violão.

E ali, naquele bar, ao som de Chico Buarque, um novo amor nasceu. Brotou, não para apagar as marcas do passado, mas para fazê-la, novamente, amar o presente.

Aquilo, com certeza, foi lindo. Eu não estava ali. Entretanto, ouvi dizer que, até hoje, em algum bar da cidade, o belo moreno continua a dedicar canções e olhares para Marina. Eles não pensam em se casar. Não querem ter filhos. Não usam aliança. Mas se amam de um jeito que ninguém, nem o maior poeta, é capaz de descrever. Amam-se a ponto de acreditar que para sempre se amarão.

* Ricardo Coiro: Não liga para camarotes e não está nem aí para os Camaros amarelos. Gosta mesmo dos botecos cheios de coxinhas e de coxonas. Vive entre o soco e o sopro. Joga no time dos cafamânticos e, sempre que faz um ovo frito, deixa a gema estourar. Inventou o Google, mas, infelizmente, teve a ideia roubada.

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Comentários
  • Não sei se gostei mais do texto, ou da auto descrição do autor! 😉

    13 de novembro de 2013
    • Somos duas.

      25 de novembro de 2013
      • Três! Posso me apaixonar por ele? Rs

        3 de dezembro de 2013
        • Entra na fila! Rs

          4 de dezembro de 2013
  • Ah q texto lindoooooo

    14 de novembro de 2013
  • As suas descrições sobre você mesmo ás vezes são melhores que seus textos! hehehehehe
    Queria te mostrar uma crônica que fiz sobre meu irmão, como faço?
    Abraço grande!
    Luiza

    15 de novembro de 2013
  • Foi em um contexto idêntico à este q conheci minha namorada. Ela tinha terminado um relacionamento longo, e os amigos dela a forçaram a ir no aniversário de um amigo meu. Quase 4 anos juntos desde então! hahahah

    3 de dezembro de 2013
  • Adorei o texto.
    Gostaria de saber escrever assim!!
    Admiro muito quem o sabe.
    Tenho inúmeros poemas, mas não tenho coragem de publicá-los…

    27 de março de 2014
  • Texto maravilhoso, Coiro sempre apavorando!

    27 de março de 2014

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