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Jogos sexuais infantis: o que são e o que fazer se você flagrar?

*TEXTO: JULIETA JACOB, jornalista e educadora sexual, autora do blog Erosdita.

Vamos imaginar duas situações:

A)  Você chega na sala de casa e se depara com seu filho de dois anos pelado (ele mesmo tirou a fralda) puxando a pitoca do amiguinho da mesma idade, que espera a vez dele para então fazer o mesmo no seu filho.

B)  Você abre a porta do quarto e flagra seu filho de cinco anos deitado na cama em cima da prima de mesma idade brincando de “marido e mulher”.

As duas situações caracterizam o que se chama de jogos sexuais infantis. Você pode se assustar, achar um horror, errado, uma indecência, um perigo… Mas, CALMA, não é nada disso. É apenas um comportamento INOCENTE de descoberta do corpo por mera curiosidade infantil.

Antes dos cinco anos de idade (exemplo da situação A), quando a criança ainda está na fase desinibida e “sem vergonha” (fica pelada sem problemas em qualquer lugar e na frente de qualquer pessoa), essa brincadeira é basicamente ver e tocar o corpo. Não há erotização ou conotação sexual, é apenas a busca de sensações gostosas e não fruto de um impulso sexual incontrolável, como muitos adultos costumam pensar.

Com o passar do tempo, quando as crianças absorvem a inibição e aprendem as regras sociais de privacidade (por volta dos 4-5 anos, como no exemplo da situação B) os jogos ficam “secretos”, para que não sejam vistos por adultos. Ainda assim, não confunda: não é porque a criança passa a brincar no quarto e não na sala (na frente de todo mundo), que ela tem consciência que aquela brincadeira significa “fazer sexo” (até porque não significa) ou está tomada de desejo sexual. Aqui continua valendo a ideia da curiosidade, descoberta do corpo e, também, de repetição do comportamento dos adultos.

***Veja outras características dos jogos sexuais:

– podem se iniciar tão logo a criança comece a interagir com coleguinhas na pré-escola. E quando eles param? Quando as crianças param de encará-los como brincadeira. Na adolescência, aí sim, os jogos sexuais se transformam em sexo. É mais assim: ao entrar na puberdade e compreender melhor o sexo entre adultos, os pré-adolescentes começam a acreditar que as “atividades exploratórias” devem ser com alguém lhes atrai, com quem estejam namorando, por exemplo.

– podem ocorrer com bonecas, brinquedos, espelhos ou até com amiguinhos(as) imaginários.

– para algumas crianças, pode não acontecer ou ser um caso isolado, que jamais se repetirá. Para outras, acontece durante anos da infância.

– pelo menos um terço das meninas e mais da metade dos meninos dão vazão a brincadeiras sexuais com um amiguinho(a) antes de entrar na puberdade.

– na maioria das vezes ocorre entre amigos(as), embora também possa ocorrer entre irmãos/irmãs.

– crianças pequenas não escolhem o parceiro(a) por considerá-lo atraente, mas sim ao sabor da disposição e conveniência. Portanto, não tem necessariamente relação com a orientação sexual (pode ocorrer com colegas do mesmo sexo ou do sexo o oposto).

– alguns pesquisadores vêem no jogo sexual um valioso ensaio para o sexo adulto saudável.

***O que você precisa observar com atenção:

– A idade das crianças envolvidas na brincadeira. O ideal é que seja a mesma ou muito próximas (mais ou menos um ou dois anos de diferença). Se a diferença for muito grande (uma criança de dois anos com outra de oito, por exemplo) a brincadeira pode não ser interessante devido aos diferentes graus de amadurecimento delas (quanto mais perto da puberdade, maior a possibilidade de a criança começar a encarar o jogo sexual como algo mais próximo do que seria o sexo adulto). Ou seja, se a diferença de idade entre duas crianças for grande o bastante para elas não se escolherem naturalmente como companheiras de outras brincadeiras, provavelmente não será interessante que sejam companheiras de jogos sexuais. Quanto maior a diferença de idade entre as duas crianças, maior será a probabilidade de haver um elemento pouco saudável de coerção envolvido no jogo sexual.

– O consentimento. Enquanto seu filho(a) participar da brincadeira voluntariamente, o jogo sexual será inofensivo. Portanto, tem que haver consentimento (noção, aliás, que vale para outros aspectos da vida e deve começar a ser passada para a criança desde a primeira infância).Uma criança que participa de um jogo sexual sem interferência ou pressão provavelmente sairá dele com uma sensação positiva de excitação e prazer que alimentará a visão que virá a ter futuramente de seu corpo e sua sexualidade. Enquanto for assim, não há razão para limitá-lo. Algumas vezes, entretanto, as crianças são pressionadas e forçadas a participar de brincadeiras sexuais. E isso pode deixar marcas de vergonha e medo. Se houver manipulação ou uso de força, aí se transforma em abuso e invasão e deve ser impedido imediatamente.

***Como reagir se você flagrar:

Se a criança tiver até três anos: não faça nada. Assim como na masturbação precoce, se sentir que deve pará-la, simplesmente desvie a atenção para outra atividade.

A partir dos quatro anos: você já pode monitorar com mais frequência. Não precisa ter um ataque nervoso e gritar “parem com isso!!!”. Se acontecer, ok, respira, se acalma, lembra desse texto aqui e recupera o fôlego, pois é hora de conversar. O ideal é que a conversa ocorra em um lugar calmo e confortável, sem tensão nem ameaças. Se as crianças estiverem muito assustadas, diga que não se zangou, ajude a criança a descrever o que a experiência significa pra ela sem transmitir pânico. Faça perguntas que sejam fáceis de responder e que não pareçam ter carga de culpa. Algumas dicas:

“Que brincadeira era aquela que você e fulana estavam fazendo hoje? Tem nome? Como é que se brinca? Vocês se divertiram?”

Depois de sondar o terreno e constatar que está tudo bem, é hora de trabalhar as questões da diferença entre as idades e do consentimento:

“É um jogo que pode ser gostoso se feito com um amigo(a), mas não quero que você faça com alguém que não seja da sua idade.”

“E só brinque se quiser. Diga ‘não’ se não quiser, entendeu? Vai me contar se algo assim acontecer e não for legal? Não é legal é obrigar alguém a fazer o que não se quer. Só quero que você brinque assim com seu amigo se ele também quiser”.

Em alguns casos, quando apenas a conversa não é suficiente, pode ser necessário exercer uma supervisão um pouco mais atenta e reduzir as oportunidades (interromper o banho conjunto ou estabelecer a regra de que as crianças devem brincar de porta aberta, por exemplo). Impedir o convívio das crianças envolvidas só deve acontecer em último caso, principalmente se elas já forem amigas e se relacionarem super bem, pois corre-se o risco de a criança entender o afastamento como uma punição (e aí ela vai se sentir culpada), além do risco de impedir, desnecessariamente, que uma linda amizade floresça e se estabeleça.

*LEIA MAIS:

– Masturbação infantil: 10 coisas que nunca te contaram

– “Minha filha de 4 anos se masturba. Como lidar?”

– O que é educação sexual para crianças?

– De onde viemos? Como falar de sexo com crianças

– O que é fimose?

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