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Especialista em “inteligência erótica” conta como transar mais no casamento

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Esther Perel é especialista em inteligência erótica.

Não exagero ao dizer que Esther Perel não apenas mudou a minha forma de enxergar os relacionamentos como me encorajou (sem saber) a estudar sexualidade humana. Eu a conheci em 2010, em sua sexta passagem pelo Brasil. Sou absolutamente fascinada por ela até hoje. Esther é uma psicóloga belga, casada há 30, mãe de dois jovens, com consultório em Nova York. Já palestrou em dezenas de países sobre a dificuldade de manter a chama acesa em casa e o que ela chama de “inteligência erótica”, tema de seu livro “Sexo no Cativeiro”, da Editora Objetiva. A entrevista que fiz anos atrás permanece atual. É longa, mas eu PROMETO que vai mexer profundamente com você. Leia em partes, mas LEIA. E compartilhe com o (a) parceiro (a).

 

Ter bastante intimidade com o parceiro não garante uma boa vida sexual?
Não necessariamente. Recebo casais que se amam e são cúmplices, mas estão entediados com a vida sexual. Alguns sempre tiveram consciência de que faltava algo, mas esperavam que as coisas se resolvessem sozinhas. Outros querem resgatar essa vitalidade erótica. Apesar de frustrados, eles tiveram coragem de se perguntar até quando viveriam assim. Perceberam que poderiam encontrar uma companhia melhor na cama, mas não uma parceria vitalícia tão boa.

Então é errado pensar que, quanto mais próximo você está do seu parceiro, melhor o sexo?
Enquanto o amor necessita proximidade para conhecer o outro e sentir-se seguro, o desejo requer imprevisibilidade, autonomia e mistério. Mas buscamos esses opostos em uma mesma pessoa. O desafio de todo casal é administrar esse paradoxo ao longo da vida a dois: as tensões entre familiaridade e novidade, conexão e independência. O perigo está principalmente entre os que veem intimidade como proteção ou posse. Esses elementos são inimigos da sexualidade.

Você diz que fogo precisa de ar, assim como desejo precisa de espaço.
Quando pergunto em meu consultório em que momentos um se sente mais atraído sexualmente pelo outro, as respostas têm a ver com o distanciamento que possibilita admiração. Coisas como “quando a vejo conversando com outras pessoas em uma festa”, “quando ele toca o instrumento que adora”, etc. Ou seja, quando se percebe a individualidade de quem amamos e entendemos que ele não depende de nós. Que tem valores próprios, capazes de chamar atenção de terceiros. Ansiedade e dependência matam o desejo. O amor se baseia em entrega e autonomia. Com excesso de distância, não pode haver ligação. Mas, na fusão de duas pessoas em uma, a ligação se torna impossível. O que mantém viva a relação é a possibilidade de olhar o outro livre e escolhê-lo novamente.

Na prática, como perceber se não estamos sufocando o outro?
Temos que nos sentir confortáveis vendo o outro afastado. Estar na sala e respeitar se ela quiser ler um livro em outro canto, ou sair com as amigas e ir ao cinema. E deixá-lo em paz no futebol e no bar com os amigos. Quando querer compartilhar tudo vira obrigatório, os limites pessoais são desrespeitados. Negar a privacidade do outro transforma amor em posse. Acontece que o medo do abandono numa cultura em que tudo é descartável confirma quanto somos substituíveis – e nossa necessidade de segurança aumenta.

Ela já palestrou em dezenas de países sobre o conflito entre amor e desejo

Ela já palestrou em dezenas de países sobre o conflito entre amor e desejo

A falta de sexo também não corrói, aos poucos, a intimidade?
Depende. Há muitas formas de ter uma relação feliz, e nem todas incluem sexo. Alguns casais estruturam-se mais no afeto e, se não sentem falta de um “algo mais”, tudo bem. Satisfazem-se com uma transa por mês. Mas para aqueles que buscam manter a dimensão erótica – que é esse “sentir-se vivo” -, a ausência de intimidade sexual cria um deserto emocional. Como não envolvem-se mutuamente na cama, vivem desapontados.

E os casais em que os parceiros se consideram melhores amigos?
É o começo do fim do erotismo dentro da relação. Na amizade, o desconhecido não faz parte porque ela não é baseada na diferença, mas na semelhança. Quando não há nada mais a descobrir, nada há nada mais a procurar. No meu trabalho, tento criar tensões, curiosidade, aumentar a diferença e devolver a ideia de que você não conhece a pessoa com quem está.

Por que casais cada vez mais jovens (e com menos tempo de relação) estão te procurando por insatisfação sexual?
Definitivamente há ligação com a forma com que temos educado nossas crianças. Fazemos de tudo para evitar que eles se frustrem. Se querem algo, providenciamos imediatamente. Não damos tempo para que eles realmente desejem o que pediram. Isso se reflete nas relações amorosas: eles querem que tudo funcione com facilidade, sem demandar esforço. A pornografia também influencia. Dá ideia de sexo descomplicado e com múltiplos orgasmos. E a liberdade sexual fez com que os jovens pudessem transar não para reprodução e depois do casamento. Hoje buscam sexo por prazer. Como tiveram experiências sexuais com outros parceiros, são mais exigentes e menos pacientes.

Para você, os relacionamentos estão mais sobrecarregados de expectativas. Por quê?
A industrialização e crescimento da vida urbana separaram o trabalho e a família. As pessoas vivem mais sozinhas, longe de parentes, amigos de infância, cidade natal. Então cobram do parceiro amoroso apoio emocional, compaixão e companheirismo, além de preencher o vazio existencial. Essa única pessoa deve nos dar o que uma série de redes sociais nos dava. Além disso, antes se casava para ter filhos, apoio econômico, status social. O amor podia vir, mas não era primordial. Hoje, no Ocidente, casamos por amor. O número de divórcios é maior em culturas onde se espera mais do parceiro: há mais desilusões.

"Sexo no Cativeiro" é leitura obrigatória para quem quer entender as dificuldades do casamento

“Sexo no Cativeiro” é best-seller em diversos países

O casamento ainda traz muitas ilusões?
Começamos com o desejo de ser um, mas aí descobrimos nossas diferenças. A perspectiva de todas as coisas que não teremos nos apavora. Então brigamos, como se a necessidade de nos sentirmos completos fosse culpa do nosso parceiro. Muitos casais passam a observar os outros e lamentam a perda de sonhos. Mas depois compreendem a escolha que fizeram – porque no amor também está a aceitação. A partir desse reconhecimento de si e do parceiro, é possível transformar as diferenças em riquezas.

Como criar o mistério tão necessário para o fogo?
Não acho que mistério é algo que se tenha que produzir. Ele existe, basta que a gente perceba o outro com outros olhos. Se considerarmos a natureza transitória da vida, entendemos que é ilusão acreditar que conhecemos completamente a pessoa que amamos. Como o mistério faz com que nos sintamos inseguros, preferimos produzir mecanismos de estabilidade que o sufocam. Algumas pessoas acabam relacionamentos porque o desejo ou a paixão acabou. Mas quando isso acontece com mais de uma pessoa, talvez o problema esteja nela mesma e não no outro.

Porque a paixão sempre acaba.
Exato. Ela dura de seis meses a dois anos, em média. É uma coisa hormonal mesmo. O problema é que estamos em um mundo que diz que precisamos ter paixão e viver sexo intenso o tempo todo. Não se pode viver num estado permanente de paixão. Ela é um processo transitório para alcançar outro objetivo. Mas acredito que podemos entrar em momentos apaixonados em uma relação.

Como assim?
Acordar mais cedo e preparar o café do jeito que o outro gosta, por exemplo. Surpresas cotidianas e gestos simples fazem com que o casal se recorde por que se escolheu. Casais com uma boa vida erótica sabem como ressuscitar e desfrutar dessa energia. Não se planeja sexo, mas um espaço erótico. Ali o sexo terá muito mais chances de acontecer.

No livro, você diz que as mulheres querem sexo espontâneo, mas que ele é um mito.
O sexo supostamente deveria ser fácil, livre de tensões ou inibições. Reduzimos a sexualidade com outra pessoa a uma química boa ou ruim. Queremos ser arrebatados por um impulso natural e não pensar em sedução, brincadeiras eróticas e qualquer coisa que demande esforço ou tempo. Só que sexo espontâneo é um mito mesmo no início dos relacionamentos. Em geral, houve uma “preparação” de horas e até dias. A roupa, o restaurante, a música… tudo ajudou no desfecho. Muitos casais encaram a ideia de planejar o sexo como obstáculo porque associam à obrigação.

Entendem como marcar hora para transar?
É. Mas a ideia é criar um espaço onde a intencionalidade esteja presente. Casais sem filhos podem transar quando dá na telha. Pais precisam ser mais práticos e planejados: sair uma vez por semana, colocar as crianças para dormir mais cedo e trancar a porta. O importante é demarcar um território a que só eles dois tenham acesso. Porque senão o sexo virá a última das “tarefas domésticas”. Será que a louça não pode esperar até o dia seguinte?

Dor de cabeça e tempo escasso são desculpas?
Não, acho que isso pode acontecer mesmo. A questão é que se a mulher arrumou sozinha toda a casa, ela vai dar uma desculpa quando o homem pedir para transar. Agora, se ele vem e diz que vai ajudar na limpeza, traz um copo de vinho e diz que você está linda hoje… Cria um ambiente erótico – que não precisa de velas, mas de conexão. Essas pequenas transgressões à rotina são essenciais. Sugiro para alguns pacientes que troquem emails eróticos, por exemplo.

E qual a relação entre desejo e iniciativa?
Algumas pessoas têm desejo, mas não tomam a iniciativa. Por exemplo, quem sempre dá o primeiro passo pode se cansar de esperar que o parceiro também seja responsável pelo encontro sexual. Quer pensar que o outro está pensando nela, sem que ela precise fazer muito esforço para a coisa acontecer. Do outro lado, existem os que aguardam a atitude do parceiro porque têm medo: encaram a falta de desejo do outro como uma rejeição pessoal. Não conseguiriam lidar com um “agora não”. Há homens que não querem que a mulher tome a iniciativa porque ela já é muito poderosa e ele se sente pequeno e passivo. E mulheres que gostariam de mostrar quando estão a fim, mas o companheiro não aceita ou esse gesto não faz parte da educação sexual dela. É toda uma dinâmica ao redor da aceitação, desejo, controle, auto-aceitação.

A falta de sexo costuma ser a causa ou a conseqüência dos problemas na vida a dois?
Pode ser os dois. Às vezes a falta de sexo é que gera a tensão no casal. Mas, em outras, o bloqueio sexual tem a ver com a existência de ressentimentos, insegurança, falta de conexão. Ele também pode ter raízes na educação familiar e religiosa de uma das partes – e outras causas pessoais, sem relação com o parceiro. Costuma-se dizer que se melhoramos o relacionamento, o sexo volta. Não é verdade. Tive pacientes que emocionalmente passaram a se entender, mas o problema sexual não desapareceu. As regras da cama não são as mesmas da cozinha.

Você quer dizer que o casal pode ser mesmo incompatível sexualmente?
Sim. Depende do que o sexo significa para cada um. Pode significar conexão, fuga, rebeldia, uma hora em que você não precisa ser maduro ou responsável, um momento em que você pode se entregar e ser cuidado, um lugar para se sentir poderoso. Na prática, eles terão fantasias diferentes, gostarão de preliminares opostas. Então um pode querer que o outro seja mais agressivo na cama, mas isso não faz o perfil dele. E é possível que esse casal nunca tenha um sexo maravilhoso entre si. Aqui cabe a pergunta: quão importante o sexo é para você? Porque se for muito, vale discutir acerca da monogamia e da fidelidade.

A sugestão é de que, neste caso, o casal que se ama permaneça junto, mas busque satisfação sexual separadamente?
Cada casal deve negociar suas fronteiras. Algumas pessoas pensam que porque estão casados ou namorando, a sexualidade do outro lhe pertence. Por isso consideram traição até se o parceiro tiver fantasias com outras. A presença de uma terceira pessoa é um fato (seja na realidade ou na imaginação). Podemos lidar com covardia, indignação moral ou mergulhar nessa aventura com uma curiosidade saudável. Alguns casais conseguem incorporar essa terceira pessoa e se beneficiar dessa liberdade (como no ménage a trois). Os mais tradicionais não conseguem sequer pensar na hipótese porque acreditam em “somos tudo um para o outro, nos bastamos”.

Por que a infidelidade sempre foi condenada, mas jamais deixou de ser praticada?
Talvez porque exista algo na paixão que é tão atraente que estamos dispostos a fazer tudo por um momento. Ou porque queremos romper as regras sociais. Ou porque não queremos nos sentir em cativeiro. Ou porque o sexo não é bom no casamento. Ou porque queremos sentir uma vez mais o novo. E porque vivemos duas vezes mais que cem anos atrás e é difícil estar sexualmente com apenas uma pessoa por quarenta anos.

E você acha que a infidelidade não deve ser contada?
Todo mundo tem direito de cultivar seu jardim de segredos. Boas relações amorosas não demandam transparência absoluta. Especialmente no que diz respeito à infidelidade. Nem todos os affairs têm a ver com um relacionamento que vai mal. Às vezes são questões que você precisa resolver com você mesmo ou têm ligações com o seu passado, com os exemplos que você teve na vida… Se o segredo já tem consequências, imagine a revelação. Se temos que saber tudo, não confiamos.

Qual a principal fantasia sexual das mulheres?
Não são homens que chegam com rosas. São fantasias politicamente incorretas, que envolvem arrebatamento. Elas querem se sentir íntimas e seguras no amor, mas sexualmente preferem o anonimato e a agressividade. Os parceiros não entendem esse paradoxo. Podemos viver uma coisa na fantasia que simplesmente abominamos no nosso dia a dia e que não tem nada a ver com a nossa identidade, nosso jeito de ser. O desafio da intimidade sexual é conseguir expressar esses desejos, que às vezes revelam aspectos de nós mesmo rodeados de culpa e vergonha.

Você diz que muitas esposas reclamam que seus maridos só pensam em sexo. É verdade?
O homem, muitas vezes, quando está pedindo sexo, está pedindo amor e atenção. Dessa forma se sentem conectados e íntimos de suas parceiras, que não raro só tem tempo para os filhos e o trabalho. Mas a mulher acha que ele só pensa naquilo e, como ela está querendo dar amor, há um curto-circuito sem sentido: os dois querem o mesmo.

De que forma a chegada de um filho interfere na vida sexual do casal?
Muita coisa muda: nossos corpos, nossas finanças, nossas roda de amigos. Temos menos tempo, dinheiro, privacidade e liberdade. E mais desgaste físico e emocional. Quando filhos entram em cena, diminui a nossa tolerância diante de emoções desestabilizadoras. Só que o sexo está fincado na perda do controle, nas incertezas e na vulnerabilidade.

Como você leva a experiência profissional para a sua vida pessoal?
Acho que me tornei mais aberta e discuto sobre vários assuntos com meu marido – que antes não estavam na nossa pauta. Chego em casa e comento sobre o que vi no consultório, as experiências dos casais, os problemas e as alternativas que deram certo ou errado. Não acho que, necessariamente, quando sabemos a teoria é mais fácil colocar em prática. Todos temos nossos limites.

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*Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo. Foto: Pixabay

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Comentários
  • Adorei!!! Virei fã também, me vi em vários trechos da entrevista. Vou passar a entender melhor algumas situações e tomara que consiga resolver alguns problemas que a tempos vem atormentando meu casamento!

    20 de setembro de 2014
  • Sensacional!! Adorei a entrevista!

    22 de setembro de 2014
  • Nossa também me enxerguei e achei a explicação maravilhosa

    22 de fevereiro de 2015

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