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D.R.: paixão e medo discutem a relação

Tingia a boca de vermelho quando ele se aproximou com aqueles passos cansados. Ela se ajeitando no espelho do banheiro, empinando os peitos e a autoestima. Ele metido num pijama confortavelmente puído, apoiado no batente.

– “Você não aprende mesmo”.

– “Borrei?”, fazendo biquinho com os lábios.

– “Não seja infantil. Eu lá tô falando do batom? Quantas vezes eu vou ter que te dizer pra não sair por aí com esse coração em brasa nas mãos?”.

– “Mil vezes as minhas queimaduras do que o seu instinto de autopreservação. Meu amor, você vê a vida passar de dentro dessa sua concha. Feito um caramujo cagão”.

– “Deixa ver se eu entendi. Ao longo dos séculos, o homem inventou estratégias e ferramentas pra se proteger. Garantiu a sobrevivência da humanidade. Graças aos MEUS antepassados, estamos tendo essa conversa e você insinua que EU sou medíocre?”.

– “Nada como interpretar as coisas do jeito que a gente quer, não é? Ao longo dos séculos, o homem fez loucuras e promoveu guerras pelos amores mais imbecis. Matou e morreu. E você vem julgar a minha impulsividade como uma burrice histórica”.

– “Me preocupo com você, querida. Com as suas expectativas. Além disso, você tem a memória de uma formiga! Eu arquivo cada machucado em ordem alfabética, encho a casa com alertas de perigo. Esse cara só quer te comer”.

– “Olha, com aquela pegada e aquela língua… não me parece tão desvantajoso assim. Te contei como ele é sexy cambaleando com um copo de uísque? Se faz de durão, mas roncou de conchinha… Peraí, me dá licença de desfrutar do meu corpo com quem bem entender?”

– “Mas o problema nunca foi dar a boca, o peito, a bunda. O problema é que, às vezes, você dá a sua delicadeza, o seu mau-humor, os seus abraços, as suas palavras”.

– “Odeio quando você subestima a minha capacidade de separar uma coisa da outra”.

– “Odeio quando você se acha tão esperta. Você acha que eu não vejo seus olhos dispersos depois? Que eu não ouço o seu choro no banho? Que eu não percebo a sua ansiedade por um telefonema, um email, a porra de uma mensagem qualquer?”.

– “Merda. Você tem razão”.

– “Não ouvi. Repete?”

– “Engraçadinho. Então você sugere que eu me proteja da dor, mesmo que para isso eu também me proteja do amor”.

– “Não. Eu sugiro que você vire uma taça de vinho tinto. Tem um resto numa garrafa da geladeira”.

– “Depois?”

– “Depois coloca o salto mais alto que tiver e vá”.

– “Você briga comigo, faz um discurso foda, me convence a entender o seu lado e me diz simplesmente pra IR?”

– “Agora você tá com medo?”.

– “Óbvio”.

– “Então vá. Vá, nem que seja de braço dado comigo. Assim eu te ajudo a se equilibrar. Essas calçadas são perigosas e imprevisíveis…”

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Comentários
  • Aaah! que incrível, conseguiu descrever ‘minha ultima conversa comigo mesma’ rs… Medrosa mas com muita fome de vida 😉
    Amo seus textos, sempre ma-ra-vi-lho-sos. Sucesso aew e Parabéns!

    7 de janeiro de 2014
  • Muito interessante!!! Esse medo racional debatendo com a impulsiva paixão e abraçando-a no final faz muita gente se identificar porque a ambivalência nos parece cada vez mais comum… Me fez lembrar na analogia da patinação no gelo que zigmund bauman faz ao falar da sociedade pos moderna.
    Abs.

    15 de janeiro de 2014
  • estou de boca aberta :)

    6 de fevereiro de 2014
  • Perfeito, tão real, tão mulher. Esse foi como assistir uma conversa daquelas que só acontece nas mentes de nós mulheres. Amei!!

    29 de março de 2014
  • Aff…. Me vi nesse texto agora . Como sofro com essa dúvida e esse medo , isso me pertuba 24 horas por dia … Mais é melhor chorar arrependida , do que chorar por nunca ter tentado ….

    20 de agosto de 2014
  • Pior Lorena é quando um dos dois gosta de fugir de uma D.R. aí é foda.

    Eu sempre disse que discutir uma relação é por os pingos nos iis para evitar que o trem descarrile lá na frente, e depois um olhe pra cara do outro e diga: “também você nunca me falou nada, e eu não enxergava”.

    Não tem nada mais triste que um dos parceiros tentar salvar a relação, já que na prática ambos se amam – quando amam, pois se um dos dois não ama, aí é pegar a trouxa e cair no mundo, com toda tristeza e dor que uma separação dá a quem se sente desamado(a). – e ver que o outro não se esforça o mínimo.

    23 de janeiro de 2016

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