HomeSexoCinquenta Tons de “Frozen”: paródia genial com a animação da Disney
frozen

Cinquenta Tons de “Frozen”: paródia genial com a animação da Disney

Você não precisa gostar da trilogia sadomasô-light de Erika L. James para reconhecer seu sucesso mundial. Eu me lembro que, assim que foi lançado no Brasil, as pessoas tinham vergonha de andar com o livro debaixo do braço. Em pouco tempo, os vagões do metrô paulistano estavam lotados de mulheres que perdiam as estações porque mergulhadas na trama de Christian Grey e Anastasia Steele. Nunca vi tanta gente lendo no transporte público. Sério. Há quem critique a qualidade literária ou mesmo a “submissão feminina”… Coloco minha opinião na reportagem de capa que escrevi para a revista Época, reproduzida neste post.

Duas semanas atrás, a Universal divulgou o trailer do filme, previsto para as telonas em fevereiro de 2015. Assista para rir depois.

Neste vídeo, uma paródia GENIAL com a animação “Frozen”. As imagens infantis, escolhidas a dedo, são narradas pelas vozes do trailer oficial de “Cinquenta Tons de Cinza”. Obrigada, internet.

Aqui a reportagem de capa que escrevi para a revista Época, em julho de 2012, quando o livro foi lançado no Brasil. 

UM PORNÔ PARA A MULHER

Por que o romance erótico “Cinquenta Tons de Cinza” virou fenômeno mundial de vendas? Resposta: ele foi escrito sob medida para as fantasias de submissão das mulheres modernas e autossuficientes. 

740_capa

Reportagem que escrevi para Época em julho de 2012, quando trabalhava como repórter na revista.

Meu marido nunca leu uma linha escrita pela autora britânica Erika Leonard James. Mas, desde a semana passada, quando mergulhei na leitura de sua primeira obra, ele virou fã dela. Isso porque, apesar de os termômetros de São Paulo denunciarem o auge do inverno, dei férias a meu pijama de flanela. Enquanto avançava nos capítulos do livro, meu marido me via tirar do armário uma ou outra camisola rendada. Mesmo recém-casada, aos 25 anos, e editora do blog de sexo de ÉPOCA, o Sexpedia, não estou imune às armadilhas que a rotina pode impor a um longo relacionamento – nem ao estímulo que os livros de E.L. James podem produzir na vida dos casais. Sua trilogia vendeu 31 milhões de cópias apenas em língua inglesa. Agora, se converteu em best-seller lá em casa.

A ficção adulta que movimentou minha vida doméstica, Cinquenta tons de cinza (um trocadilho com o sobrenome de um dos protagonistas, Grey, que significa cinza em inglês), é um fenômeno editorial comparável a sucessos como Harry Potter ou O código Da Vinci. A obra já foi traduzida para 37 idiomas, foi motivo de leilões disputadíssimos e chegará no dia 1º de agosto ao Brasil. O primeiro volume da trilogia será lançado pela Editora Intrínseca com tiragem inicial de 200 mil exemplares, uma das maiores para a estreia de um autor no país. Nos Estados Unidos, atores de Hollywood digladiam pelo papel dos protagonistas Anastasia Steele, uma universitária desajeitada e virgem de 21 anos, e Christian Grey, bilionário misterioso cinco anos mais velho por quem ela se apaixona.

O enredo não traz grandes surpresas. Depois do primeiro encontro casual – Ana conhece Grey ao entrevistá-lo para o jornal da faculdade –, seguem-se os recursos ficcionais de praxe. Os dois se trombam em situações improváveis, e a atração mútua, que fora instantânea, torna-se irrefreável. Grey vira uma espécie de anjo da guarda. Aparece do nada para salvar Ana de uma bebedeira na balada. Leva a moça aturdida e encantada para jantar, pilotando um helicóptero. Até apresenta Ana para a família, como a primeira namorada digna desse privilégio. Em troca dessa atenção e proteção, e de presentes que ela aceita relutante, Grey propõe que Anastasia seja sua escrava sexual. Em seu apartamento principesco, mantém o “quarto vermelho da dor”, repleto de chicotes, mordaças e outros aparatos sadomasoquistas. Ele quer que ela se comprometa a seguir estritas regras de conduta, entre elas chamá-lo de “senhor” e estar sempre disponível para transas. Enquanto pensa no assunto, Ana experimenta, sempre corando, sessões demonstrativas de tortura sexual para mocinhas, durante as quais sua “deusa interior” – uma espécie de ego 100% feminino – produz interjeições excitantes como… “Uau!”.
Uma mulher que se julga moderna como eu, independente emocional e financeiramente, pode se sentir insultada. O livro reúne todos os clichês contra os quais aquelas moças na década de 1960 empilharam sutiãs: a mulher fraca e ingênua que precisa ser protegida, que salva o mulherengo problemático de si mesmo, que não resiste aos afagos do dinheiro. Some-se a isso um texto fraquinho, e chegamos ao mistério: por que uma mistura rala e antiquada como essa faz tanto sucesso? Confesso que devorei as 480 páginas do primeiro volume em três dias. Na televisão americana, leitoras gratas pela retomada de sua vida sexual já deram depoimentos agradecendo calorosamente à autora. De onde vem isso?

A origem da trilogia não explica a enorme aceitação entre as mulheres. Cinquenta tons de cinza nasceu sob inspiração da saga Crepúsculo, da americana Stephenie Meyer, que conta a história de amor da humana Bella e do vampiro Edward. Era uma fanfiction, modalidade em que leitores publicam em sites novas tramas para seus heróis preferidos. A tensão sexual enrustida da história adolescente de Crepúsculo tem se mostrado uma fonte prolífica para autores amadores. A britânica Erika, uma ex-produtora de televisão de 48 anos, casada e mãe de dois adolescentes, foi apenas uma das fãs que resolveram escrever letra por letra aquilo que Bella e Edward queriam fazer, mas Stephenie não deixava. Deu certo. Os capítulos de sua historinha atraíram tanta audiência na internet que uma pequena editora australiana transformou a saga em livro e pediu que Erika fizesse uma versão sem vampiros. Foi questão de tempo até que parasse no topo da lista do jornal The New York Times. No começo, Erika ficou constrangida com a situação e se recusava a aparecer. Agora, caiu feliz nos braços do público.

Se o sucesso do livro não embaraça mais sua autora, seu efeito ainda constrange mulheres modernas que se percebem excitadas pela historinha água com açúcar (mais chibatadas) de Anastasia Steele. Seríamos todas, no fundo, versões dissimuladas de Anastasia, sem um Grey para chamar de nosso? O que há no livro que desperta tanto interesse – e tanta excitação entre nós, mulheres? Para responder a isso tudo, comecemos pelo início: admitindo que, sim, gostamos de sexo. Uma historinha picante – pornográfica, por que não? – produz efeito. Há quem diga que nada pode ser mais excitante para uma mulher do que ver seu marido lavando louça suja ou varrendo a sala. A ideia empolga, é verdade. Ter um parceiro com quem dividir as tarefas domésticas libera tempo livre para nos emocionarmos no quarto. Mas essa piada revela que a sociedade menospreza o prazer sexual da “mãe de família”, da “mulher casada”, da “dona de casa”. O rótulo dado à obra de Erika pela imprensa estrangeira, “pornô para mamães”, é um indício. O gênero “pornô para papais” é impensável. Presume-se que, depois de casar ou ter filhos, o homem continue com necessidades eróticas. Da mulher não se espera o mesmo. O sucesso de Cinquenta tons de cinza sugere que há muito desejo represado entre a pia da cozinha e a mesa do escritório. Mostra, também, que as mulheres estão perdendo o constrangimento em usar pornografia para satisfazê-lo – ou alimentá-lo.

Outra coisa que ajuda a explicar o apelo desse livro entre as mulheres é uma linguagem adequada a nosso desejo. Não é aquela dos filmes eróticos produzidos para o público masculino. Eles mostram, basicamente, paisagens genitais e closes de penetração. “No pornô para homens, o sexo é atlético e mecânico, com pessoas conectadas apenas pelos genitais. As mulheres precisam de fantasia para alcançar o contexto erótico. E não são explícitas como os homens. A imagem de um homem nu da cintura para cima, sorrindo de olhos vendados, pode ser muito mais excitante que um close no pênis dele”, afirma a diretora sueca Érika Lust, premiada por seus roteiros pornôs feministas.

O que excita as mulheres é ser o centro das atenções de um homem forte (moral e fisicamente), como acontece com Anastasia. Culpem a evolução por ter deixado esses rastros primitivos em nosso cérebro. “Para a manutenção da espécie, era essencial escolher um parceiro saudável, capaz de gerar filhos resistentes e ajudar na subsistência da prole”, afirma o sexólogo Theo Lerner, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A biologia é sempre uma ferramenta perigosa nessas discussões, mas é certo que o clima de romance – e a virilidade do homem – é muito excitante para as leitoras. “A mulher precisa de mais tempo e de contexto para liberar suas fantasias”, diz a ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do projeto Afrodite, que atende mulheres com dificuldades sexuais.

Erika James seguiu à risca a receita erótica que une tempo e contexto. A cena de sexo inaugural entre Anastasia e Grey acontece na página 103 do livro. Difícil imaginar um autor do sexo masculino com paciência para adiar por tantas páginas a consumação. Ela não tem pressa em desenvolver o ambiente, o clima e os diálogos. As preliminares são longas – e tão psicológicas quanto sensoriais. Erika investe no tal contexto, pré-requisito para acender nossa chama. Outra novidade do livro é o foco narrativo, inteiramente voltado para as características físicas e gestuais de Grey. A autora o descreve com a mesma volúpia de detalhes com que Jorge Amado passeia pelo corpo de Gabriela. Com base na riqueza de detalhes providos por Erika, pesquisadores da Universidade de Lancashire, no Reino Unido, conseguiram até fazer um retrato falado do personagem. Sobre Anastasia, pouco se sabe. Com cabelos castanhos, de pele e olhos claros, tem baixa autoestima e começa o livro virgem até em masturbação. Mas tem uma invejável facilidade de atingir o clímax. Na passagem em que relata a primeira transa de sua vida, ela experimenta três orgasmos seguidos. O primeiro, apenas com sopros e beijos nos mamilos. Os outros, logo em seguida, com as duas primeiras penetrações de sua vida. Mais fácil que tomar um chazinho…

Antes que as mulheres se sintam extraterrestres ou questionem sua vocação para esse negócio de sexo, é bom conferir o resultado de uma enquete feita pelo site de relacionamento Par Perfeito a pedido de ÉPOCA: mais de 80% das 1.000 brasileiras consultadas disseram não ter experimentado orgasmo ao perder a virgindade. Anastasia está mais próxima da fantasia que da trabalhosa realidade das mulheres. “Ela seduz porque a leitora gostaria de estar no lugar dela”, afirma Sai Gaddam, coautor de A billion wicked thoughts (Um bilhão de ideias malvadas). Seja por seu gozo instantâneo ou pela coragem de se entregar aos fetiches mais obscuros, Anastasia encarna fantasias de felicidade feminina. É improvável que a maioria das mulheres assinasse o acordo de Grey para ser sua escrava sexual. Mas não deixa de ser intrigante que essa fantasia de submissão seja avidamente consumida por mulheres modernas. Depois de ascender socialmente nas últimas décadas, elas controlam a família, os filhos e as finanças do casal. Ganharam voz ativa em casa e no trabalho. Por isso, parece natural que, no teatro sexual, se permitam perder o controle. “Elas passaram a se impor no cotidiano e, no sexo, se sentem mais à vontade para buscar a submissão como forma de equilíbrio emocional”, afirma Oswaldo Rodrigues, do Instituto Paulista de Sexualidade. “É uma brincadeira”, diz a psicanalista Diana Corso. “Não significa que ela será submissa em outras esferas da vida.”

As feministas, claro, não gostam desse tipo de explicação. Ela reverte, ao menos entre quatro paredes, décadas de conquistas psicológicas. Simpatizantes do universo sadomasoquista argumentam que Cinquenta tons de cinza é piegas e não reflete a verdadeira cultura do grupo. Conservadores dizem que a história é degradante e inspira violência contra as mulheres. Curiosos leem para entender o burburinho. São pessoas como eu, que acabam multiplicando o efeito viral e os lucros de Erika. Aos amigos homens, uma sugestão: a leitura talvez os faça entender que não basta dizer “eu quero tchu/eu quero tcha” para conseguir uma noite memorável. Às amigas que perguntam se o livro é bom, respondo: depende. Literariamente, não. Literalmente, sim. Faz lembrar que o sexo deveria ser prioritário mesmo na correria do dia a dia. Lá em casa, no instante em que terminei a leitura, meu marido perguntou: “E então, amor, quando você começa o segundo volume?”.

Compartilhar:
Comentários
  • Bom, creio que isso é algo que passar pela sutil nuance: faça aquilo que você gosta, mas esteja atenta para perceber se aquilo que você gosta te faz bem ou não. Quanto mais profundo for o sentido de seu bem estar, melhor. Porque, de fato, muito daquilo que nos causa dor, angustias e pífio amor próprio, vem das coisas que acreditamos gostar.

    29 de agosto de 2014
  • Essa trilogia de um tham no meu mês de março.
    Comecei a ler o último, em seguida enlouqueci li as amostras no play livro,assim que meu pagamento saiu corri pra livraria e pra renne Kkkk comprei os dois primeiro e dois conjuntos de calcinhas e sultian. Meu agora então marido não entendeu nada,passei o feriado da páscoa na cama intercalado entre a leitura e o sexo gosto

    22 de setembro de 2014

Post em resposta a O que você achou do filme 50 tons de cinza? | Pimentaria Cancelar resposta