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A primeira depilação – aquele urro a gente não esquece

Eu tô aqui DEPILANDO meus pelos pubianos com o dente de tanta inveja: EU QUERIA TER ESCRITO ESSE TEXTO MARAVILHOSO. O Luciano, amigo meu, encontrou essa pérola aqui. Embora lá não tenha assinatura, descobri que a autora é Paula Chiodo. Para tudo o que você estiver fazendo agora e leia isso:

“Tenta sim. Vai ficar lindo.”

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve.

Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

– Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

– Vai depilar o quê?

– Virilha.

– Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

– Cavada mesmo.

– Amanhã, às… Deixa eu ver…13h?

– Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui.

Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona.

Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.

Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas.

Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

– Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca.

Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas.

Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era

O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

– Quer bem cavada?

– é… é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

– Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

– Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

– Pode abrir as pernas.

– Assim?

– Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

– Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.

Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar.

Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.

Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

– Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope.

Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer.

Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

– Quer que tire dos lábios?

– Não, eu quero só virilha, bigode não.

– Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

– Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.

Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

– Olha, tá ficando linda essa depilação.

– Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. “Me leva daqui, Deus, me teletransporta”.

Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

– Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

– Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.

Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la.

Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

– Vamos ficar de lado agora?

– Hein?

– Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

– Segura sua bunda aqui?

– Hein?

– Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.

Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava De cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

– Tudo bem, Pê?

– Sim… sonhei de novo com o cú de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cús por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera.

Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo.
Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

– Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

– Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

– Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

– Máquina de quê?!

– Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

– Dói?

– Dói nada.

– Tá, passa essa merda…

– Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

– Prontinha. Posso passar um talco?

– Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

– Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar…namorar. .. eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais.

Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso.

Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.

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Comentários
  • Nossa, que tortura kkkkkkkkkkk. Fico imaginando se por acaso, a segunda depilação seria menos dolorosa? com os pelos “menores” .

    23 de outubro de 2013
  • Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk… Me acabando na risada, rs… Já passei por algo bem parecido

    23 de outubro de 2013
  • Um dos textos mais engraçados que eu já li. Mulher tem que sofrer pra ficar apresentável e o pior é que na maioria das vezes o homem (que é pra quem a gente faz todo esse sacrifício) nem sabe diferenciar se a depilação foi feita com cera ou com gillette.

    23 de outubro de 2013
  • Adorei o texto!
    Realmente me vi na descrição dela, a primeira vez é mesmo horrível, seja pela dor, surpresa, constragimento, medo… Apesar de todos os pesares, rende sempre uma boa e engraçada história… kkk
    Amei o blog, os textos, a maneira como aborda os temas.. Parabéns!

    23 de outubro de 2013
  • Ri demais. O texto é realmente muito bom. Mas cá entre nós, não dói tanto assim.
    Algumas das nossas amigas/colegas exageram e muito durante a sessão depilatória.
    Quando fico na salinha de espera, fico espantada pela quantidade de gritos que ouço e quando chega a minha vez,
    nem sinto tanta dor assim. Dá pra suportar com classe.

    23 de outubro de 2013
  • nossa, que texto engraçado! sorrir mt. é bem assim mesmo que funciona a primeira depilação.;)

    23 de outubro de 2013
  • caramba! isso existe mesmo ou eh invenção? vou passar a prestar mais atenção a depilação. o homem tem que pelo menos dar uma elogiada p valer a pena!!!!!!!!!!!

    24 de outubro de 2013
  • Chorei – literalmente – de rir.

    24 de outubro de 2013
  • Cara você é demais, to amando isso daqui!

    25 de outubro de 2013
  • Morri de rir! Cresci ouvindo da minha mãe as maravilhas da depilação com cera. Comecei aos 17 e só depilo a virilha (completa,prefiro assim) com cera. Dói mesmo,de verdade. Mas a gente acostuma e quem depila assim sabe q vale à pena. Porém o resto do corpo tiro ‘tudo’ com Satinelle à 3 anos

    25 de outubro de 2013
  • Muito bom!!! depois desse texto vou dar mais valor para as unhas (pois tirar cutícula também não deve ser legal), cabelos, depilação e etc… da minha mulher… hahahahah

    25 de outubro de 2013
  • Mais fica muito bom…uhummmmm

    28 de outubro de 2013
  • Oi malagueta! Adoro seu blog, leio direto! Uma amiga minha garimpou o final do texto da moça. Compartilho com você e as outras malaguetas. Espero que esteja correto. Bjs!

    “Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada e matar o primeiro homem que ver e não comentar absolutamente nada.!!! Não fiz nada disso… Um mês depois…
    – Normal ou cavada?
    Coisas de perereca, vai entender…”

    29 de outubro de 2013
  • Nunca ri tanto rssss

    13 de novembro de 2013
  • hahaahhahahahahhahahahahaahhaha é hoje que serei demitida!!!! não consigo parar de rir!!!! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    29 de novembro de 2013
  • Já havia lido esse texto antes, e detalhe, antes de fazer a minha primeira depilação a cera. Imagina a minha cara… não sabia se ria da situação ou se morria de medo, não tinha a menor ideia de quanto doeria. Mas o texto por ter um lado bem cômico, apesar de relatar o sofrimento acabou ajudando a relaxar, e até hoje quando o leio gargalho sem parar.

    22 de janeiro de 2014
  • Nossa me vi ai, e tudo junto mesmo dor, vergonha. E agora parei pra pensar somente a depiladora me ver num ângulo tão intimo.

    5 de fevereiro de 2014
  • Não consigo parar de rir! Já tinha lido um texto semelhante, mas esse é fenomenal!!!!

    9 de outubro de 2014

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