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A nossa falta de intimidade – por que metade dos brasileiros está sexualmente insatisfeita

Há anos, abre as pernas para ele. De tanto ver essa vagina em closed caption, o homem decorou a posição de cada pelo e reentrância. Acreditam-se íntimos, muito íntimos. Compartilham erros inconfessáveis, planos ambiciosos, alegrias banais e frustrações dantescas. Ela até se depila na frente dele, que já peida sem qualquer cerimônia. O problema, ela vem me dizer, é “ter de fingir quase sempre” porque ele sofre de ejaculação precoce – embora tente disfarçar e se empenhe para proporcionar orgasmos (fictícios) à namorada. “Mas vocês conversaram?”, farejei. Ela tem vergonha de falar “dessas coisas” e teme magoá-lo.

O que é intimidade senão a capacidade de ser quem somos ao lado de quem amamos? Com todas as nossas falhas, limitações e desejos. Por que não dizer “amor, hoje não rolou” ou “põe o dedo mais para cima” ou “vamos comprar um vibrador juntos”? Qual o tamanho do tabu que impede um adulto de comentar “linda, vou procurar um médico pra gente curtir melhor o sexo” ou “não me chupa desse jeito que eu gozo rápido”? Bota essa língua pra fora, minha gente! Não só para metê-la em orifícios ou praticar o boquete que você leu na parte lacrada da revista feminina. Intimidade é conversa. Sim, sobre sexo também.

Não me surpreende que metade da população brasileira esteja insatisfeita com a vida sexual. O dado não é um chute estatístico baseado nas dezenas de e-mails que recebo toda semana das leitoras do Pimentaria. Trata-se de uma pesquisa com mais de mil pessoas (89% em união estável), realizada pela marca de camisinhas Durex e divulgada no mês passado pela psiquiatra Carmita Abdo. Algumas pistas do drama doméstico: 40% dedicam no máximo 15 minutos para as preliminares e 13% transam em menos de cinco. Não à toa, apenas 22% das mulheres conseguem gozar toda vez e 62% dos homens declaram dificuldades para manter o pau ereto.

Diante das lamúrias e reclamações que chegam a mim, a resposta mais fácil seria “troque de parceiro(a)” que tudo se resolve. Por um tempo, impossível negar, uma nova paixão consegue entreter e saciar qualquer um. À medida que o fogo arrefece e o mistério acaba, voltamos às mesmas questões – ainda que elas sejam diferentes, como a falta de libido ou o receio de falar sobre um fetiche. Então talvez a melhor resposta para os casais que se amam e querem realmente se sentir íntimos seja… “pratique o sexo oral”. Crie um espaço para o diálogo livre de receios e julgamentos. O prazer é consequência.

*Este texto é minha primeira coluna no site Brasil Post, edição brasileira do jornal Huffington Post.

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Comentários
  • Adorei o texto!

    19 de fevereiro de 2014
  • As vezes me pergunto o que esse povo tem na cabeça e entende por intimidade? Afinal ter intimidade com a pessoa com quem dormimos na mesma cama e amamos, não nada mais nada menos que saber verbalizar mesmo os mais difíceis e embaraçosos assuntos?

    Postagem interessante.

    19 de fevereiro de 2014

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