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Como a terapia corporal pode afastar problemas sexuais

Camila Macedo

Camila Macedo (Foto: arquivo pessoal)

*TEXTO: CAMILA MACEDO, psicóloga e educadora sexual

“Nossa missão é ajudar as pessoas a transarem gostoso”, me disse um colega sexólogo tão logo comecei a estudar e trabalhar na área. Minhas pacientes riem quando conto isso – e desconfio que fiquem mais tranquilas em falar de seus bloqueios sexuais, mitos, dores e traumas. Estou ali para ajuda-las a ter mais qualidade de vida, experiências sexuais mais positivas e prazerosas.

Todo mundo tem alguma dificuldade ou problema nesse departamento, pode acreditar. Mas o tabu social é grande. Por isso, sei que quem procura processo terapêutico precisou reunir coragem antes de me achar. Entender o que acontece com seu corpo e suas emoções é uma viagem de autoconhecimento e reconhecimento. E nessa viagem embarcam duas pessoas – você e a terapeuta – comprometidas com a sua melhora. Coisa que só vai acontecer se você se sentir segura e à vontade.

Não há sexualidade sem corpo e não há corpo sem significados. A forma como nosso corpo se manifesta no dia-a-dia pode indicar se estamos vivendo plenamente o prazer (ou não). Uma dificuldade ou bloqueio sexual nos impossibilita de vivenciar sensações positivas na intimidade, registrando no seu corpo uma tensão muscular. A dificuldade de entregar-se a si mesma e ao outro é sinal dessa ruptura que não está apenas no pensamento. Essas tensões não especificamente estão nos genitais, ok? Podemos desenvolver tensões nas costas, pernas, pés, braços, barriga, olhos, boca, maxilar, mãos – e elas estarem associadas a emoções e expressões reprimidas.

Uma mulher que sente invadida e incomodada ao receber sexo oral, por exemplo. O que isso pode representar? Talvez experiências anteriores negativas como uma violência, repressão sexual, necessidade de controlar seu corpo… E, acima de tudo, o quanto é difícil se permitir desfrutar de todo estímulo gostoso que o corpo é capaz de proporcionar no sexo. O problema é que, às vezes, não basta pensar e conversar sobre a dificuldade sexual, é aí que o recurso da terapia sexual entra como estratégia de trabalho. Precisamos nos “descongelar” na prática para poder gozar gostoso com nosso corpo. Não, terapia corporal não é o mesmo que massagem erótica ou tântrica.

Então como funciona? Você terá conversas detalhadas e sigilosas com uma terapeuta, que entenderá sua queixa (no caso, sexual) a partir da sua história. Ela vai observar como seu corpo se comporta e propor exercícios, como treino de respiração e relaxamento, massagens etc. Essas intervenções te ajudarão a ter “consciência corporal” – em outras palavras, a perceber quais partes estão travadas e atrapalham a sua espontaneidade sexual. Quando falamos de descongelar o corpo, é porque nem sempre identificamos nossas tensões e como elas impedem que nosso corpo reaja aos toques sentindo prazer e não desconforto. É simples: vamos imaginar um simples torcicolo que não te abandona há um tempo, parece que nada tem a ver com a sua queixa sexual né? Mas tem sim, ele pode significar a imensa preocupação com seu desempenho sexual, a dificuldade de dizer para seu parceiro que ele não está mandando muito bem nas carícias, uma culpa por não estar gozando como queria, fora o estresse diário que mantém você sempre alerta para o que o mundo quer de você – e esquece do que seu corpo precisa. A partir do momento que você começa a trabalhar essas questões e junto com as intervenções corporais você percebe que essa tensão se dissolveu progressivamente e você conseguiu ter uma transa mais gostosa sem cobranças pessoais e o “bloqueio” desapareceu. Não é mágica, é compreensão corporal.

Um exemplo. Nesta pesquisa com leitoras do Pimentaria sobre sexo oral, uma participante disse não gostar de receber porque se sente “invadida”. Vamos imaginar que ela é minha paciente. Eu poderia sugerir atividades na sessão para descobrir como o corpo dela estabelece um ponto de limite no contato com o outro, já que a queixa dela se refere a uma sensação de que o outro não respeita seus limites pessoais e invade seu território. Durante as sessões iríamos trabalhar a percepção da rigidez de seus braços e pernas, para sentir se ela consegue manter seu espaço pessoal preservado com muito esforço ou pouco esforço. Quando nossos braços e pernas estão “duros” e enrijecidos perdemos a capacidade de movimentos mais soltos e menos mecânicos (como os movimentos orgásticos livres). A rigidez do corpo exige um alto nível de esforço e energia para manter nosso espaço pessoal preservado e impede a espontaneidade. Entendendo a rigidez e experimentando posturas mais flexíveis nos exercícios, ganha-se outras formas de posicionar sua barreira pessoal e de garantir sua individualidade sem um esforço exagerado – consequentemente abre espaço para que a pessoa se sinta segura em seus limites e se permita explorar a entrega sexual com menos medo. Um simples exercício sobre “não deixar a outra pessoa entrar no meu espaço pessoal” desperta o corpo para sentidos mais profundos e nos conecta com aquilo que sentimos.

Que problemas sexuais podem ser tratados na terapia corporal? Desde os específicos (vaginismo, dispareunia, inibição do desejo) até os problemas que envolvem os relacionamentos afetivos e sexuais. Cada caso é especial e o tratamento é desenhado de acordo com suas necessidades, limites e dificuldades. Também é importante a avaliação de um ginecologista para verificar a presença/ausência de fatores físicos envolvidos na queixa sexual.   Converse com uma profissional que tenha uma abordagem corporal e se permita experimentar uma sessão para sentir os benefícios desse trabalho.

*** Camila Macedo Guastaferro – Psicóloga, Educadora Sexual, Mestre em Educação e Saúde pela Unifesp. Trabalha há 13 anos com sexualidade no Instituto Kaplan – Centro de Estudos da Sexualidade Humana e atende em psicoterapia corporal no SAL – Cuidados Integrados do Ser Humano, em São Paulo/SP. Para entrar em contato: camimg@gmail.com

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