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Campanha #meuamigosecreto denuncia machismo e viraliza nas redes sociais

O #meuamigosecreto disse que eu “nem precisava ser competente” para conseguir uma vaga naquela redação. Minha “beleza” já valia a contratação.

Então contrata um vaso de planta, porra: decorativo e sem custos trabalhistas. Era o que eu queria ter respondido. Queria. Mas eu também queria muito aquele emprego. Consegui. E passei um bom tempo angustiada com a ideia de que talvez estivesse ali não graças a uma faculdade de jornalismo, alguns anos de experiência como repórter, ao potencial que enxergaram em mim. Será que eu havia conquistado mesa-computador-ramal simplesmente porque o chefe imaginou que poderia me comer? Ou porque torcia que eu aparecesse com um decote e alegrasse seu dia?

Aposto meus peitos que, ao pronunciar aquela frase, ele teve certeza de que estava me fazendo um elogio. Elevando a minha autoestima. Eu quase deveria agradecê-lo por isso. Só que não. Toda mulher percebe um elogio fora de contexto, embalado em malícia. Quando causa constrangimento, em vez de inflar o ego. Quando tira o mérito, minimiza sua capacidade e sua inteligência. Quando te diz, nas entrelinhas, que você não precisa se esforçar porque pode recorrer a outras “qualidades” para obter qualquer coisa. O que decidir fazer, naquele momento, foi provar para ele (e para mim mesma) que era uma excelente profissional. Não me arrependo.

Ontem à tarde começaram a pipocar relatos de amigas no Facebook com a hashtag #meuamigosecreto. Mais uma campanha que escancara o machismo de cada dia. Aquele que vem de pessoas do nosso convívio, de amigos e parentes que amamos (apesar disso). Coisas como “#meuamigosecreto não deixa a namorada sair sozinha e faz cara feia quando ela pinta as unhas de vermelho”; “#meuamigosecreto não paga pensão alimentícia, mas posta fotos viajando na gringa”; “#meuamigosecreto acha legal eu gostar de futebol, mas tenho que torcer ‘que nem menina’, sem falar palavrão”; “#meuamigosecreto conta rindo que deu ‘mata-leão’ numa garota da balada para conseguir beijá-la”. E por aí vai.

Há quem diga que essa iniciativa não passa de mimimi feminista. Que, se você não gostou do que alguém disse ou fez, devia meter logo o dedo na cara e deletar fulano da sua vida – em vez de dar indiretas nas redes sociais. Primeiro: nem sempre a gente pode (ou está disposto) a arrumar uma briga ou criar um climão. Segundo: se eu for fazer uma limpa para excluir todas as pessoas com ideias e comportamentos que repudio (machismo, fundamentalismo religioso, preconceito racial, homofobia, ideologias políticas etc), é provável que me refugie em casa. A minha escolha é continuar frequentando bares com amigos, almoços de família, reuniões de trabalho, salas de aula. Vai que, numa conversa qualquer, um assunto se impõe como uma oportunidade de debate. Vai que, de repente, eu os faça enxergar o outro lado ou até mudar de opinião. Vai que.

Terceiro: não acho que o propósito dessa campanha seja dar um recado para os homens acusados nessas hashtags. Simpatizo com o caráter pedagógico dela. O #meuprimeiroassédio, por exemplo, mostrou como o abuso sexual não é só pau-na-buceta e se faz presente em situações que já consideramos banais. Lógico que não surpreende a quantidade de mulheres vítimas de assédio, mas saber dos pormenores e se imaginar no lugar delas… bem, duvido que não tenha impactado uma galera. Da mesma forma, #meuamigosecreto quer provocar reflexão e, com sorte, fazer com que algumas fichas caiam: “É, eu já fiz isso. E faço aquilo direto. Nunca tinha parado pra pensar que é agressivo, machista, ridículo”. Se não fizer, valeu a tentativa.

*** PS: Alô, você que está compartilhando a hashtag #meuamigosecreto com mensagem para a tia que te presentou com uma meia no natal passado, para o vizinho que bate nas crianças, para a amiga que ficou uó com o novo corte de cabelo… você não entendeu NADA.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

*LEIA MAIS:

– Movimento Mamilo Livre peita a desigualdade de gênero

– “Não é mulher pra casar”. Poxa, jura?

– Eles acham “errado” a mulher sair sozinha…

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