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Camila Macedo, a “tia” dos adolescentes, responde tudo que eles querem saber sobre sexo

Camila Macedo: doze anos de experiência com educação sexual de adolescentes

Camila Macedo: doze anos de experiência com educação sexual de adolescentes

“Se ele gozar na minha coxa, posso ficar grávida?”. Após doze anos de experiência como educadora sexual, a psicóloga Camila Macedo sabe exatamente o que está por trás de cada dúvida. Sagaz, ela responde: “Olha, a coxa vai do joelho à virilha… Mas isso nunca acontece perto do joelho, né?”. Miúda e descolada, a “tia” de 31 anos não tem medo de ser zoada, não filtra nem floreia palavras, conhece o universo e as gírias adolescentes. Comento com ela que, nesta fase da vida, o que nos ensinam é apenas o lado negativo e assustador do sexo – imagens de perebas em paus e xoxotas, pânico de uma gravidez precoce etc. “Terrorismo não funciona, Nath. Tento mostrar que cada um tem o poder de fazer com que a sua sexualidade seja perigosa ou não”, ela diz.

O grande problema é que, tanto pais quanto escola, acham que falar sobre o assunto significa incentivar os jovens a sair trepando por aí. Como se eles não procurassem respostas em outros meios, como a internet. E como se “não falar” pudesse impedir que eles façam o que bem entendem… Camila cita estudos feitos na Europa: quem tem mais informação adia a primeira transa. Portanto, se você não dá conta de falar com o filho, não seja hipócrita de tolher a sexualidade dele. Encaminhe para outro adulto ou mesmo para os serviços como o SOSex, em que profissionais (coordenados por Camila) esclarecem todo tipo de questão por email e chat. Pergunto se o conceito de virgindade hoje é diferente de décadas atrás. “Eles se consideram virgens se não teve penetração vaginal. Mas já fazem de tudo antes, como sexo oral e anal”, explica.

Nesta quarta-feira (24), ela estará no Parque do Ibirapuera com a exposição gratuita “Por Dentro da Camisinha” ***, uma iniciativa do Instituto Kaplan com apoio da marca Durex. Jovens de 13 a 18 anos poderão entrar numa imensa camisinha inflável, ao ar livre, para entender o papel da camisinha contra as doenças sexualmente transmissíveis. As turmas serão guiadas por um educador num percurso de 20 minutos. Ao final, todos aprendem como colocar a camisinha masculina e feminina (em próteses). Eles poderão testar a elasticidade e a sensibilidade do material. A ideia é desmistificar clichês como “camisinha estoura fácil” ou “não dá pra sentir nada com ela”.

Camila, que também é mestre em educação em saúde na infância e adolescência pela UNIFESP, fez a gentileza de responder neste post algumas das dúvidas mais frequentes da molecada.

1. Masturbação faz mal?
A masturbação não causa nenhum prejuízo para sua saúde, é apenas uma forma de conhecer o próprio corpo e como ele reage ao toque, às carícias, identificar do que gosta e sentir prazer. No caso das garotas – estimular o clitóris, vulva e vagina – e no caso dos garotos – estimular o pênis e saco escrotal. Não tem nenhum efeito colateral, não altera seu corpo, não cresce pelo na mão, não dá espinha, não acaba com o esperma, não perde a virgindade (aí também depende do que você considera virgindade, se for a perda do hímen e você inserir algum brinquedo sexual… pode acontecer). A prática da masturbação pode fazer parte do seu repertório em qualquer momento da vida (sim, até quando você está namorando) e tudo vai depender de como isso está associado com suas crenças e valores pessoais também (sobre isso você deve consultar seu guia religioso/espiritual).

2. Se eu gozar fora, tipo na coxa, ela pode engravidar?
Bom, a coxa começa na virilha e termina no joelho, então se você ejaculou próximo do joelho e não teve nenhuma brincadeira sexual que levou o sêmen direto para a vagina (tipo estimular o clitóris dela com a mão molhada de sêmen, ou penetrar um pouco e tirar fora), não há risco. Mas, como em geral esse “acidente” ocorre próximo da virilha e da entrada da vagina, há risco porque a lubrificação vaginal é uma ótima condutora dos espermatozoides e ajuda o caminho deles até a tuba uterina – caso o óvulo esteja por lá (o que chamamos de período fértil/ovulação), há chance de gravidez.

3. Amasso pelado tem problema ou também precisa de camisinha?
Depende muito do amasso, então o que dá para a gente dizer é o seguinte:
– carícias com as mãos no genital da outra pessoa: se mantiver por lá a mão, não há risco. Se usar da própria secreção sexual para dar uma ajuda na lubrificação, há risco de conduzir diretamente espermatozoide (no caso do garoto ejacular e, com a mão molhada de sêmen, masturbar a garota), ou de transmitir alguma DST que pode estar presente na secreção sexual (caso a pessoa esteja infectada).
– roçar genitais estando ambos pelados: risco na certa, primeiro pelo contato entre os genitais (risco de infecção por uma DST – algumas DST passam pelo contato direto entre genital e região infectada) e a troca de secreções mesmo sem penetração (risco de gravidez – lembra do que eu falei da condução do espermatozoide pela lubrificação vaginal e de infecção por uma DST).
– outras carícias que não envolvem o genital – pode abusar do corpo como uma grande zona érogena, trocar beijos, fazer carícias nas costas, no pescoço, nas coxas, nos pés, onde vocês quiserem e onde sentirem prazer ao serem tocados.

4. Só de roçar o pênis na entrada da vagina não tem perigo, né?
Perigo de gravidez? Depende. Você está roçando o pênis seco? Não né… Então é o seguinte, na composição do líquido pré-ejaculatório (aquele transparente que saí antes do sêmen) não há espermatozoide, MAS isso não significa que ele não possa carregar os espermatozoides que ficam retidos na uretra após uma ejaculação. Aqui a dica é a seguinte: se ejaculou (na masturbação ou na penetração), faça xixi depois – SIM – porque assim não ficarão espermatozoides retidos no canal da uretra, e consequentemente não haverá risco de gravidez se houver contato apenas com o líquido pré ejaculatório. Agora, se ao roçar o pênis você ejacular, risco de gravidez na certa né? A lubrificação vaginal conduz os espermatozoides para a tuba uterina, rumo ao óvulo (caso a menina esteja ovulando ou no período fértil). Ah, e risco de DST tem de qualquer jeito quando há contato entre os genitais (caso um dos dois esteja infectado) e quando há troca de secreções sexuais.

5. Não dá pra sentir nada com camisinha…
Não dá para sentir nada é muito radical e não é de todo verdade. Claro que é diferente, mas nem por isso é ruim ou impede vocês de sentirem prazer. As camisinhas de hoje tem uma espessura finíssima que permite sentir temperatura, textura, contato, viscosidade. Durante a relação sexual, muitas coisas contribuem com a excitação – os corpos juntinhos, sincronizados, explorando carícias e posições apimentadas, descobrindo ritmos e formas de intensificar a intimidade, o desejo, a entrega e o prazer. Se você achou uma camisinha desconfortável, teste uma ultra-sensível ou uma de material diferente (há as de poliuretano) e também dá para diversificar com texturas (saliências) ou temperaturas (esquenta, esfria). Não é a camisinha por si só que vai interromper a sensação, mas a falta de espontaneidade, a ansiedade, o medo de falhar…

6. Quando eu devo tomar a pílula do dia seguinte e aonde consigo?
Bom, a pílula do dia seguinte é um método de emergência, então você deve usá-la quando algo não deu certo: quando teve uma transa e não usou nenhum método contraceptivo, quando usou um método e ele falhou (camisinha rompeu, esqueceu a pílula anticoncepcional de uso diário mais de 2 vezes no mês), em caso de estupro. Vale destacar que é emergência mesmo pois a dosagem hormonal da pílula do dia seguinte é alta e ela perde eficácia se tomada mais de uma vez no mesmo ciclo. Então, se é a terceira vez no mês que você pensou em tomar a pílula do dia seguinte, parece que você precisa usar um outro método anticoncepcional de longo prazo ou a camisinha né?

7. Se eu uso anticoncepcional, não preciso mais de camisinha?
O anticoncepcional oral (pílula) só previne a gravidez então não dá para descartar a camisinha. A camisinha é o único método que oferece dupla proteção e garante que o controle da sua saúde sexual está com você. Em dados recentes divulgados pela Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids – Unaids) metade das pessoas que têm HIV não sabem, e esse número equivaleria a 19 milhões de pessoas pelo mundo – não é pouco. Sem falar em outras DST que também existem e podem causar prejuízos na saúde sexual (dores, ardências, coceiras, corrimentos, etc) e algumas complicações delas quando não tratadas podem comprometer a fertilidade.

8. Menina também ejacula?
Entre 3 e 5% das mulheres podem ejacular (liberar um líquido quando atingem um pico de excitação) o que também é conhecido como squirting. Não é igual a ejaculação masculina, vale ressaltar. Na mulher, a ejaculação feminina é liberada pela uretra (não é xixi), é um líquido transparente e sem cheiro – em quantidade significativa (equivalente a meia xícara de café), mas não exagerada como nos filmes pornôs (as atrizes injetam soro fisiológico para aumentar a quantidade de líquido e causar uma impressão que não é muito similar à realidade). Então, pode ser que você não tenha essa reação ao orgasmo e está tudo bem. A maioria das garotas tem o orgasmo com as contrações rítmicas da vagina, sensação de intenso prazer e bem estar que dura segundos e não tem liberação de nenhum líquido. As pessoas são diferentes, então não vale cobrar da garota que ela tenha uma ejaculação ou duvidar se ela estava curtindo e teve um orgasmo sem ejacular ok?

9. Às vezes eu acordo com o pau duro. É normal?
Sim. é normal. Chamamos de ereção matinal e não significa que você acordou louco de tesão – na maior parte das vezes acontece porque indica a urgência de urinar. Não fique triste, isso é um sinal indicativo da saúde sexual do seu pênis. E, às vezes, dá para juntar as duas coisas – um tesão matinal junto com a ereção ao despertar!

10. Minha mãe insiste pra entrar no consultório do ginecologista comigo. O que eu faço?
Essa é uma situação delicada. Você precisará conversar com ela a respeito da sua privacidade e do seu desejo de assumir os cuidados com seu corpo. Infelizmente não tem uma receita de bolo, vai depender dos seus valores pessoais, de ouvi-la e poder argumentar a respeito da sua autonomia, de enfrentar e se posicionar sobre seus medos e os dela e de assumir a responsabilidade sobre suas escolhas, inclusive as sexuais. Se tiver espaço e companheirismo na relação com sua mãe, ela irá entender a importância desse passo e confiar nas suas escolhas, respeitando seu direito. Se não tiver espaço para a conversa, você pode procurar um outro adulto de sua confiança para conversar apoiá-la na sua decisão. É seu direito poder entrar sozinha na consulta ginecológica, assegurado pelo Marco Legal – Ministério da Saúde, ok?

***

Exposição “Por Dentro da Camisinha”

24 e 25/09, das 8h30 às 17h40.

Parque do Ibirapuera – Arena da Ponte de Ferro.

Gratuito – Adolescentes acima de 13 anos.

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