HomeSexoBolsonaro não sabe o que é educação sexual para crianças
bolsonaroeducacaosexual

Bolsonaro não sabe o que é educação sexual para crianças

No último dia 10 de janeiro, o deputado federal Jair Bolsonaro publicou um vídeo sobre educação sexual que viralizou nas redes sociais, mas está repleto de informações erradas. Entre elas, a de que o livro “Aparelho Sexual & Cia” teria sido comprado pelo governo para as escolas públicas do país. O Ministério da Educação (MEC) já se manifestou: “a obra não consta de nenhum programa de distribuição de material didático”. Também não é destinado a “crianças de seis anos”, mas maiores de onze. Não vou me dar ao trabalho de corrigir cada absurdo dito porque a revista Nova Escola fez isso de forma brilhante em vídeo (também compartilhadíssimo). Você pode assisti-lo aqui.

bolsonaro livro

O deputado Jair Bolsonaro e o livro “Aparelho Sexual & Cia” em vídeo publicado nas redes sociais (Reprodução / Facebook)

Prefiro explicar a importância de oferecer educação sexual em casa e na escola. Isso porque, quando sou convidada a palestrar para crianças e adolescentes, me deparo com a completa desinformação dos adultos. NINGUÉM VAI ENSINAR AO SEU FILHO, NUMA SALA DE AULA, COISAS DO TIPO: “COMO FAZER UM BOM SEXO ORAL”, “AS POSIÇÕES SEXUAIS MAIS PRAZEROSAS” etc. Ninguém sai correndo pra transar porque conversou sobre sexo. Assim como ninguém deixa de se desenvolver sexualmente porque pai/mãe/escola disseram “você não tem idade pra essas coisas”.

Se não damos as informações necessárias, lançamos esses jovens ao mundo despreparados e sujeitos a muitos riscos. Deixamos que outras fontes muito menos idôneas, como coleguinhas e a própria mídia, entrem em cena e se tornem professores deles. Hoje em dia, com a internet em todos os smartphones e tablets nas mãos infantis, o primeiro contato com pornografia se dá aos sete anos de idade. A criança está em fase de alfabetização e pergunta ao Google “o que é sexo”. Como não consegue ler, em vez de clicar nos links, vai direto para imagens (faça o teste…).

Aqui vão alguns dados sobre dois países, Holanda e Estados Unidos, que tratam a educação sexual de forma completamente diferente. Tire suas próprias conclusões.

– Nas escolas holandesas, a educação sexual começa no jardim de infância, sem NENHUMA referência explícita ao sexo. Aos quatro anos, as crianças aprendem, por exemplo: o que é o amor e como manifestamos esse sentimento (abraço, carinho, beijo no rosto), a diferença entre gostar de alguém como amigo ou namorado, como é o corpo humano.

Vídeo (com legenda em inglês) mostra a primeira aula de educação sexual em escola holandesa, ainda no jardim de infância.

– Aos sete anos, ouvem dos professores que existem diferentes tipos de família (pais separados, filhos adotados, casamento entre pessoas do mesmo sexo etc). Aos oito, os alunos conversam sobre autoimagem (alguns tem cabelos cacheados, outros são lisos; alguns são altos, outros são baixos; alguns tem pelos antes, outros depois etc) e estereótipos de gênero (meninas podem jogar bola, meninos podem usar rosa etc). Aos onze, começam a discutir o que é orientação sexual (alguns meninos gostam de meninos, algumas meninas gostam de meninas etc) e métodos contraceptivos (o que é camisinha, pílula anticoncepcional etc).

– Por lei, todos os estudantes de escola primária devem receber educação sexual. E essa disciplina deve conter princípios como respeito à diversidade sexual (o que reduz o índice de bullying e suicídios entre os jovens) e assertividade (como se proteger contra abuso e intimidação). Entende-se que o desenvolvimento sexual é um processo natural que todas as crianças e adolescentes vão vivenciar – quer você queira ou não.

– A Holanda ostenta alguns dos melhores indicadores mundiais de saúde sexual. Os jovens holandeses perdem a virgindade mais tarde do que em outros países europeus e nos Estados Unidos. Nove em cada dez adolescentes de lá usam contraceptivo na primeira relação sexual. São baixíssimos os números de jovens infectados por HIV e doenças sexualmente transmissíveis. Eles estão entre os que mais utilizam a pílula anticoncepcional. Não à toa, na Holanda, o índice de gravidez na adolescência é um dos menores do mundo. Camisinhas estão à venda em máquinas espalhadas por vários locais – como aquelas de refrigerantes. Pílula anticoncepcional é de graça para menores de 21 anos.

– Nos Estados Unidos, menos da metade das escolas oferece educação sexual para os alunos. A disciplina trata apenas de como evitar uma gravidez não planejada e doenças sexualmente transmissíveis. Conservadora e bastante permeada por conceitos religiosos, prega abstinência sexual: devem permanecer virgens até o casamento. O índice americano de gravidez na adolescência é CINCO VEZES MAIOR que o índice holandês.

– Nesta pesquisa, 66% dos adolescentes americanos sexualmente ativos disseram que gostariam de ter esperado mais tempo para perder a virgindade. Ou seja, o tabu sobre o tema aumentou a curiosidade e antecipou a primeira relação sexual, fazendo com que a experiência provocasse certo arrependimento.

– Num relatório publicado em 2013, metade dos jovens entre 14 e 18 anos já era sexualmente ativo. Em 2010, mais de 600 mil adolescentes americanas estavam grávidas.

– Uma ampla análise baseada em 50 estudos que reúnem mais de 25 mil adolescentes durante 30 anos concluiu: aqueles que tiveram conversas sobre sexo em casa foram mais propícios a usar camisinha e pílula anticoncepcional.

RESUMINDO: Caro deputado Bolsonaro, verifique as informações que veicula e deixe que QUEM ENTENDE DO ASSUNTO fale sobre educação sexual.

***Este post foi originalmente publicado na coluna da Nath no Yahoo.

*LEIA MAIS:

– Se não falta informação, por que os jovens ignoram a camisinha?

– Masturbação infantil: dez fatos que nunca te contaram

– O discurso equivocado dos pais de adolescentes

– A “tia” dos adolescentes responde tudo que eles querem saber sobre sexo

– Profissão: fiscal de cu alheio

*SIGA PIMENTARIA:

– Facebook/napimentaria

– Instagram @pimentaria

– Twitter/napimentaria

– Youtube/napimentaria

Compartilhar:
Comentários
  • Moro em Israel. Minha filha de 4 anos frequenta a creche publica (aqui temos sistema publico de educacao a partir de 3 anos e meio, 90% das criancas comecam nessa idade no sistema publico). Dias desses ela comenta, apos a creche, q ela aprendeu “que o meu corpo eh so meu”, isto eh, eles trabalham essa parte fisica e biologica.
    Essa semana tivemos aqui o “dia da familia” (aqui nao tem dia das maes ou dos pais, somente da familia). Eles aprenderam que eh muito importante abracar quem se ama e ser abracado. Importante passar carinho e amor. Aprenderam tb q as familias podem ser compostas de formas diferentes e nao so como eles conhecem dentro de sua propria casa. Afinal na propria turma dela tem “a Emily que so tem uma mae e nao tem pai, o Tor que tem dois pais e o Yahali que tem duas maes e todos eles sao felizes dentro de casa” – assim ela me contou.
    E eu me explodo em lagrimas!!!

    11 de fevereiro de 2016
  • O Bolsonaro é tão imbecil e babaca,e já falou tantos absurdos “que bateria no filho dele se ele fosse gay,para colocar ele no caminho direito”, e o que acaba mais me assustando,é o fato de um país como o Brasil,eleger uma figura tão degradante e preconceituosa e colocá-lo no poder,pq se ele está no congresso é pq votaram nele,um “bando” de pessoas que tem a mesma mentalidade que a dele,isso é triste e explica pq o Brasil lidera o ranking de países que tem o maior número de assassinatos por homofobia.

    12 de fevereiro de 2016
    • Acorde Agata, esta repetindo o que um bando de petralhas, falam a respeito do deputado, mas o que afirma esta muito longe da realidade, em síntese: Não votei nele e nem sei se seria minha principal escolha, seja lá pra qual cargo for, mas acho importante não fazer parte do “bando” que acredita sem questionar em todo o lixo que a máquina de destruição de reputações da esquerda, espalha por este pais, via emissoras pagas com dinheiro público… Não acredite no que parece óbvio, faça algo por você, vá mais fundo antes de formar uma opinião, seja ela qual for.

      19 de fevereiro de 2016
  • Prezado (a) autor(a),

    Li seu texto aqui, e muito me espanta alguém que se diz jornalista e formador de opinião ser tão desonesto com a verdade. Como um blogueiro que eu sou, eu entendo que você deve ter gastado muita criatividade ao nomear esse artigo com o nome do Deputado Bolsonaro em evidência, deve ter considerado muito mais a possibilidade de o seu texto ser encontrado pelos mecanismo de buscas do google devido a popularidade do Deputado em relação a denuncias desses malcaratismos dos governos atuais que tentam impor a cultura gayzista e os novos conceitos de sexualidade e famílias para a sociedade, mas vou refrescar sua memória, de que o Deputado é só uma (das) vozes na câmara dos deputados que representam a seriedade do povo brasileiro e pessoas como você, tentam exteriotipá-lo ao máximo, mas muitas e inúmeras instituições também protestaram contra esse material didático, a saber, o grupo político “Escola sem partido”, liderado pelo advogado Miguel Nagib, tambem o grupo “Todos pela Educação” formado por professores, pais e estudantes, o setor Pró Família da CNBB, inúmeras Associações e Igrejas Católicas e Evangélicas, sem contar o sem número de famílias e cidadãos de bem que fizeram uso da internet pra protestar, através de abaixo assinado e denuncias com paginas do famigerado livro pintadas contendo cenas ridículas e improprias para crianças de 09 à 11 anos, conforme a indicação do próprio livro.
    Se você está afirmando que não é interesse da autora do livro ensinar os “jovens” de 11 anos a “transar”, ou você é mais desonesta que eu imaginei ou então de fato não leu o livro ou não teve acesso ao seu conteúdo. O livro não só ensina, como tem como um dos títulos “O que é transar?” contendo ainda uma dinâmica de atividade didática de como o menino poderá introduzir o seu pênis na vagina da menina. Se o Bolsonaro sabe ou não sabe o que é educação sexual para crianças eu não sei, e não é de meu interesse, ele tem sua família, e saberá o que é melhor para a sua educação, mas com todas essas manifestações o povo brasileiro mostrou que sabe muito bem o que não deve entrar na educação!

    12 de fevereiro de 2016
  • Que pena Nathalia, encontrei um de seus artigos no yahoo, e achei fantástico, resolvi passar por aqui e buscar um pouco mais sobre você, ou sobre o que você escreve, e eis que encontro esta pérola, lamento que tenha abraçado a causa de desqualificar Bolsonaro, boa parte do que mencionou no texto, não tem base na realidade, legal usar uma fala sua “RESUMINDO: Caro deputado Bolsonaro, verifique as informações que veicula e deixe que QUEM ENTENDE DO ASSUNTO fale sobre educação sexual.” Troque só “deputado Bolsonaro”, por Jornalista Natalia, e “fale sobre educação sexual” por fale a verdade para sua audiência.. Lamentável.

    19 de fevereiro de 2016

Post em resposta a Consentimento sexual: campanha “desenha” para explicar | Pimentaria Cancelar resposta